O ministro da Educação, Fernando Haddad, revelou nesta quarta-feira (14) que uma mudança no plano de segurança criado para a impressão da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode ter contribuído para o vazamento do teste no dia 1º de outubro.

Falando durante a reunião da Comissão de Educação da Câmara, Haddad explicou que a gráfica responsável pela impressão do exame teria aberto um galpão para manuseio das provas impressas sem que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) tivesse autorizado. Seria nessa estrutura, sem a segurança devidamente checada e aprovada pelos técnicos do instituto, que a prova teria sido obtida pelos suspeitos. É a partir dessa investigação que o MEC espera identificar o responsável pelo vazamento e, por consequência, pelo prejuízo de R$ 36 milhões provocado pela anulação do Enem.

O ministro da Educação disse que é essa possível falha no plano de segurança ocorrida dentro da gráfica, em São Paulo, que está sendo apurada. "O Inep investiga qual foi a falha operacional que permitiu que pessoas recém contratadas pudessem ter subtraído a prova em um ambiente de segurança. Por alguma razão, sem que o Inep fosse informado, abriu-se na gráfica, em São Paulo, um outro espaço sem segurança para manuseio da prova. Ou seja, sem que o Inep fosse informado, o plano logístico foi modificado", afirmou Haddad.

Haddad avalia que a principal questão em torno do vazamento da prova do Enem é o esclarecimento dos motivos que levaram a gráfica a abrir um espaço de manuseio do exame sem a devida segurança aprovada pelo Inep: "Na minha opinião, o auditor (responsável pela investigação do caso no Inep) deveria ter atenção bastante acentuada nessa questão. Um novo ambiente de manuseio foi aberto. Por que se criou um ambiente inseguro? Essa é a questão que precisa ser devidamente explicada pelo consórcio. Ele tem de esclarecer essa decisão que é o principal elemento para explicar o vazamento."

A Policia Federal está apurando a parte criminal e já indiciou cinco suspeitos. O Inep abriu auditoria para apurar a responsabilidade civil no caso. Ou seja, quem vai responder pelos prejuízos.

A direção da Gráfica Plural informou, por meio de nota divulgada na noite de quarta, que o lugar onde as provas foram manuseadas foi emprestada a pedido do consórcio Connasel, a quem cabia fazer a segurança do espaço. Procurado pelo G1, o Connasel disse que não iria se manifestar.

Suspeito

Em entrevista ao Fantástico do último domingo (11), o principal suspeito de planejar o furto das provas do Enem disse que agiu de "boa fé". Segundo Felipe Pradella, a intenção era "alertar para a fragilidade da segurança". "O que eu queria fazer era mostrar que o Enem não era tão seguro”, disse Pradella.

Pradella tem 32 anos, é corretor de imóveis e está desempregado. Em setembro deste ano ele arrumou um emprego temporário, foi trabalhar como conferente para o consórcio Conasel, contratado pelo governo federal para elaborar o Enem. O serviço era dentro da gráfica Plural, onde as provas foram impressas.

De acordo com a investigação, no dia 21 de setembro, Pradella pegou a prova e a entregou a uma segunda pessoa, Marcelo Sena, que também era conferente e funcionário temporário do consórcio. “Eu fui descobrir que o Marcelo pegou a prova só na Polícia Federal”, garantiu Pradella.

Contudo, não é o que Marcelo Sena disse em depoimento obtido com exclusividade pelo "Fantástico". Sena afirmou que foi Felipe Pradella quem insistiu para que ele, Sena, retirasse a prova da gráfica. No dia anterior, 20 de setembro, já tinha acontecido outro roubo, que não foi flagrado pelas câmeras. Nesse caso, segundo a PF, quem retirou as provas foi um terceiro funcionário do consórcio, chamado Filipe Ribeiro. Ribeiro disse que levou a prova escondida dentro da calça e só fez isso a pedido de Pradella.

Já Pradella alega que, sem ele ter pedido, Filipe Ribeiro lhe entregou a prova. Pradella conta ainda que com esse exame em mãos ligou para um amigo, o DJ Gregory Camillo. “Ele me deu a idéia e falou: ‘meu, dá pra fazer um furo jornalístico e ganhar um dinheiro’”, disse Pradella.

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