Na terra dos aparatos tecnológicos, o Brasil dispensou a calculadora e chegou, invicto, ao resultado que tanto queria: o tricampeonato da Copa dos Campeões (1997 e 2005). A seleção masculina de vôlei precisava de uma vitória sobre os japoneses, donos da casa, para não ter que fazer contas. E, com grande atuação de Murilo e do capitão, Giba, calou o “caldeirão” do Nippongaishi Hall, em Nagoya: 3 sets a 0 (25/12, 26/24 e 25/22), fechando a temporada com três títulos em três torneios – também levou a Liga Mundial e o Sul-Americano. Uma conquista fácil, que deixou tranquilo até o sempre tenso técnico Bernardinho.
– O saldo foi positivo, temporada positiva, mas sem nenhum tipo de acomodação. Sem achar que chegamos a algum lugar – disse o treinador.
Se perdesse a partida desta segunda, o título seria decidido entre Brasil, Japão e Cuba, no point average. Na semana passada, na também japonesa Fukuoka, a seleção feminina, com a calculadora na mão, viu as italianas conquistarem a taça ao derrotarem as donas da casa. Ao time comandado por José Roberto Guimarães, restou o vice.
Bernardinho, como de costume, chegou ao Japão preocupado. A seleção tinha treinado apenas uma semana completa. O primeiro adversário foi Cuba, a perigosa equipe dos “mamutes”. Depois, ligou o sinal de alerta contra o Irã, que tinha em seu elenco seis atletas do Payakan, time que surpreendeu o Florianópolis de Bruninho no Mundial de Clubes. Contra a Polônia, segurou o saque flutuante dos rivais e fez sua melhor partida. No penúltimo desafio, vitória sobre os franco-atiradores egípcios. Em cinco jogos, apenas três sets perdidos: dois para Cuba e um para o Irã.
– Foi uma boa competição. Tivemos altos e baixos, como era de se esperar. Mas a equipe foi crescendo durante a competição.
– O grupo esteve muito mais focado do que ontem. Nesses jogos decisivos, os jogadores mais experientes crescem e empurram os mais novos – contou o levantador Bruninho.
Antes de a partida começar, um torcedor japonês fez calar o ginásio com um discurso que mais parecia um grito de guerra: "Ganhando ou não a medalha, a seleção vai lutar até o final. É importante que a nossa torcida apoie, pois vai ser um jogo difícil contra o Brasil".
Era hora de pôr a bola em jogo, de pôr a bola no chão. Atração nas cidades japonesas, o gigante Leandro Vissotto usou bem seus 2,12m e liderou o bloqueio brasileiro no início do primeiro set. Com três pontos nesse fundamento, o país abriu 5 a 1, e o técnico japonês Tatsuya Ueta pediu tempo. Não adiantou. O time não pontuou, e o Brasil, com um ataque de Murilo, foi para o tempo técnico com 8 a 1. Tranquilo, Bernardinho até dispensou orientações naquele momento.
Os bloqueios continuaram fortes. Pior para Gottsuo, o atacante queridinho japonês. Da arquibancada, o fã-clube do jogador viu Giba cravar uma bola e abrir 21 a 8. Vissotto, em um ataque, deu à seleção o set point e foi substituído. Os japoneses salvaram um, mas deram o set em uma bola para fora.
Se, no primeiro set, o Japão entrou em quadra pressionado pela responsabilidade de jogar em casa, no segundo o time acordou. Mais solto, conseguiu manter o jogo equilibrado até o sétimo ponto. O décimo foi, de longe, o mais belo. No improviso, o líbero Serginho levantou para Giba, que voou para superar o bloqueio triplo e marcar 10 a 8. O capitão chegou a cair de joelhos no chão, mas, no saque seguinte, já estava firme e forte, e novamente pontuou em um ataque.
Antes do segundo tempo técnico obrigatório, o Brasil enfim conseguiu abrir quatro pontos – 16 a 12. E ampliou para cinco – 23 a 19. Os brasileiros chegaram ao set point, mas o Japão salvou. Gottsuo marcou três aces seguidos, empatando em 24. O barulho dos bastões infláveis, àquela altura, era ensurdecedor. Lucão recuperou a vantagem, e a seleção fechou em um erro japonês: 26 a 24.
Na volta à quadra, a seleção pecou na recepção. E Lucão continuava errando nos saques. Por outro lado, com Rodrigão na rede, tentava impedir os ataques japoneses. E Murilo aproveitou o bloqueio japonês para pôr o Brasil em vantagem na primeira parada técnica – 8 a 7. Giba, mais uma vez sobre o bloqueio triplo, levou a vantagem para três pontos – 10 a 7. E ela chegou a cinco antes do segundo tempo técnico – 16 a 11.
O Japão corria atrás; o Brasil, também. Serginho que o diga. Ao se esforçar para pegar uma bola, e não conseguir, riu e deu um alô para a mesa de arbitragem. Os japoneses encostaram em 22 a 21 em um momento de desconcentração da seleção brasileira. Rodrigão marcou o 23º ponto do Brasil – oitavo dele na partida. A torcida empurrou, e os japoneses pontuaram. Giba soltou o braço em uma bola na diagonal. E Rodrigão fechou o jogo com um bloqueio.
Não houve torcida ou bastão inflável barulhento a ponto de impedir que o mais alto grito se fizesse ouvir: o de tricampeão. Os japoneses só voltaram a se manifestar para rir com o famoso "peixinho", marca registrada nas comemorações da seleção verde-amarela.