Para quem quer que se pergunte nas ruas de La Paz, a resposta é quase sempre a mesma: Evo Morales deve, sim, levar a Presidência da Bolívia pela segunda vez, e já no primeiro turno nas eleições gerais deste domingo (6). O primeiro presidente indígena do país aparece com vantagem de cerca de 55% nas pesquisas de intenção de voto – uma grande diferença sobre o principal candidato de oposição, Manfred Reyes Villa, da chapa Plano Progresso para a Bolívia, que aparece com 18%.
Morales parece confiante. Em entrevista a uma rede de TV nesta semana, ele disse: "depois de escutar e ver enormes concentrações em todo o país, sinto que já seremos novamente eleitos para mais cinco anos". A oposição fez uma campanha baseada em acusações e ataques ao governo. Não houve debate entre os candidatos.
As eleições na Bolívia são também para Senado e Câmara, e é aí que está o desafio de Morales. Entre os 130 deputados e 36 senadores que serão eleitos para integrar a nova Assembleia Legislativa Plurinacional, o partido de Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), precisa ter maioria.
Atualmente, o MAS só lidera a Câmara, o que dificulta a aprovação de projetos do governo. "Acredito que a vitória do presidente está assegurada e que a candidatura de Reyes Villa pode chegar a crescer, mas de maneira nenhuma coloca em risco a eleição do presidente. O que falta a definir é se Morales terá a maioria de dois terços no Congresso para conseguir a governabilidade. É preciso atentar para os votos das classes médias urbanas, que nesses quatro anos se afastaram um pouco do presidente", explica o analista político Carlos Cordero.
A campanha de Morales focou em projetos de desenvolvimento econômico e na necessidade de se continuar o trabalho feito na gestão anterior. Morales também falou da necessidade de consolidar a Constituição aprovada em referendo em janeiro deste ano.
"O mandato de Evo Morales significou uma mudança em todos os aspectos do país. […] Ele está mais maduro e parte de uma clara hegemonia e de uma posição de governo. […] A questão do desenvolvimento econômico como meta de governo virá para o centro de sua plataforma, ante uma oposição muito desarticulada", avalia José Maurício Domingues, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e organizador do livro "A Bolívia no espelho do futuro" (Ed. Ufmg)
A oposição, fragmentada, baseou sua campanha em acusações ao governo. O candidato a vice-presidente do PPB, Leopoldo Fernández, está preso desde setembro de 2008, acusado de ser um dos mandantes de um massacre de camponeses pró-Morales em Pando. Segundo o porta-voz da campanha de Reyes Villa, Erick Fajardo, em entrevista ao G1, Morales "usa recursos do governo para fazer campanha" e é "muito difícil competir com isso". Leia mais sobre a oposição boliviana.
Referendos
Além do voto presidencial e legislativo, os bolivianos votarão também em referendos regionais. Doze comunidades indígenas decidirão por sua autonomia (prevista na nova Constituição), e cinco departamentos do país também definirão se querem ou não ter um regime de autonomia departamental.
Um ‘sim’ permitirá aos departamentos organizar governos que exerçam funções legislativas, fiscalizadoras, regulamentares e executivas.
Votação
O comando da polícia do país aprovou um plano de operação especial para o domingo, com a mobilização de 37 mil policiais que farão a segurança de 1.750 pontos eleitorais no país. Um total de 5,13 milhões de bolivianos está habilitado para votar. A Corte Nacional Eleitoral implementou um padrão biométrico para um novo registro de eleitores com objetivo de regularizar a situação dos votantes. As urnas, porém, não serão eletrônicas.
O governo de La Paz emitiu um Auto de Bom Governo, que define a proibição de consumo e venda de bebidas alcoólicas 48 horas antes do pleito, a proibição de atos públicos e de circulação de qualquer veículo no dia da votação.
No exterior
Pela primeira vez, os bolivianos que moram nos EUA, Brasil, Argentina e Espanha poderão votar nas eleições deste domingo. Segundo Mariana Sánz, coordenadora de votação no Brasil, foram escolhidas nove cidades para habilitar seções eleitorais.
"No Brasil haverá cerca de 18.100 bolivianos votando, somente em São Paulo", confirmou. Os que vivem fora poderão votar apenas para presidente e vice.