Poucos medicamentos tornaram-se tão populares quanto o Viagra. Mais de 40 milhões de homens em 120 países consumiram quase 100 milhões de pílulas azuladas desde o lançamento do remédio em 1998. Símbolo de uma revolução sexual em escala global, ele agora ressurge como protagonista de uma reviravolta no mercado farmacêutico brasileiro.
Pfizer tenta comprar laboratórios para aliviar perda de patentes
Cristália antecipa estratégia contra genérico do Viagra
"Vamos competir pelas migalhas da Pfizer", diz consultor do setor farmacêutico
A patente do Viagra é uma das 26 que vencem entre 2010 e 2013 e vão injetar na indústria mais de R$ 700 milhões em receitas com uma nova geração de medicamentos genéricos.
O Viagra representa para o mercado de medicamentos o mesmo que um filme de ação para Hollywood. Por sua capacidade de arrecadar quantias milionárias, é chamando pelos executivos do setor farmacêutico de remédio blockbuster – em português, remédio arrasa-quarteirão.
No Brasil, o Viagra sozinho movimenta R$ 170 milhões por ano, pouco mais de um terço do total das vendas de medicamento contra a impotência, avaliadas em R$ 500 milhões.
Por lei, a versão genérica de qualquer medicamento deve custar no mínimo 35% a menos que o medicamento original. Na prática, porém, o desconto pode chegar a 60%, multiplicando as vendas de uma forma nunca vista enquanto o medicamento tinha marca. “Quando as versões genéricas do Viagra chegarem ao mercado, o preço vai cair e consumo, aumentar”, diz Ogari de Castro Pacheco, presidente e co-fundador do Cristália, laboratório fabricante do Helleva, um dos concorrentes do Viagra.
Uma demonstração do que pode ocorrer com o Viagra vem de uma dupla de remédios para emagrecer, o Reductil, da americana Abbott, e o Plenty, licenciado para a Medley. Os dois entraram no mercado brasileiro no fim dos anos 1990 com um preço proibitivo para boa parte dos consumidores. Uma caixa chegou a custar quase R$ 200 reais. Em 2006, pouco antes de a patente expirar, a Medley lançou a versão genérica com um preço que variava de R$ 70 a R$ 90. A partir daí, as vendas multiplicaram por seis.
A indústria farmacêutica que cria um novo tipo de remédio tem direito exclusivo sobre sua fórmula por 20 anos, a contar da data em que fez o registro da primeira patente. A Pfizer lançou o Viagra em 1998, mas o registro foi feito quase uma década antes. Para o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), instituição responsável pelo registro de patentes no Brasil, a exclusividade da Pfizer sobre o Viagra caduca em junho de 2010.
A Pfizer, no entanto, alega que a data do registro é outra e entrou na Justiça para alterar o prazo. “A data estipulada no Brasil para o vencimento difere da contagem que a Pfizer entende como correta”, diz Adilson Montaneira, diretor da Pfizer. “Entramos com uma ação judicial para corrigir a data de 2010 para 2011." A Pfizer já tem uma decisão judicial favorável em primeira instância, mas o INPI recorreu e o desfecho ainda é uma incógnita.
A data final da patente do Viagra, no entanto, tornou-se um detalhe para a indústria de genéricos no Brasil. Há mais de dois anos, a maioria dos fabricantes do país prepara-se para lançar versões com o princípio ativo do Viagra, o citrato de sildenafila. Para não correr o risco de perder uma oportunidade única, os laboratórios miram na data defendida pelo INPI, junho de 2010.
“Estamos numa corrida contra o tempo”, diz Maria Del Pilar Muñoz, diretora de novos negócios do laboratório brasileiro Eurofarma. “O genérico do Viagra é um dos mais importantes medicamentos de uma nova leva que vai chegar ao mercado nos próximos anos e todos trabalhamos para ter o produto pronto no dia seguinte que a patente vencer, não importa se em 2010 ou 2011.”
A pressa tem razões comerciais. No mercado de genéricos, historicamente, dispara nas vendas quem chega primeiro ao balcão. É assim porque as redes de farmácia costumam escolher duas ou três versões de um medicamento genérico, e os clientes adotam as primeiras que chegarem às prateleiras. Retardatários correm o risco de cair no esquecimento.