A jovem Adriana Franciscate, de 22 anos, diz que não percebeu nenhuma mudança em seu corpo, mas já estava grávida de sete meses quando descobriu que esperava um bebê. A criança nasceu um mês depois.
Nesta semana, foram divulgados três casos de mulheres que disseram ter descoberto a gravidez prestes a dar à luz. A levantadora de peso chilena Elizabeth Poblete deu à luz momentos antes do treino, em São Paulo. Ela estava grávida de seis meses mas, segundo a Federação Chilena de Levantamento de Pesos, não sabia. O bebê, que nasceu com pouco mais de um quilo, não resistiu e morreu.
No Rio Grande do Sul, uma alemã de 20 anos deu à luz no navio de carga em que trabalhava e, segundo a Marinha, que fez o atendimento inicial, ela não sabia da gravidez.
Outro caso foi de uma canadense, que teve um filho de quase dois quilos e meio no banheiro de sua casa e também afirmou que não sabia de nada, apenas sentia dores abdominais.
A jovem Adriana tinha 20 anos quando passou por situação semelhante. Moradora de Taubaté, no interior de São Paulo, diz só ter ficado grávida "por um mês". "Eu descobri que estava grávida com sete meses e aos oito meses a minha filha nasceu. Eu não tinha sono, enjoo, desejo, não tinha nada. Eu não sentia mexer. Eu falo que não fiquei grávida, fiquei grávida por um mês", diz.
Adriana, que hoje tem 22 anos, é mãe de Natália, de 1 ano e 7 meses. Ela pesa 90 kg e acha que a obesidade não a deixou perceber que estava grávida.
"Minha menstruação não era regular e eu tenho obesidade. Estava tratando um cisto e tomava anticoncepcional. Achei normal ficar tanto tempo sem menstruar. Eu ia fazer uma cirurgia para redução do estômago e a médica pediu um ultrassom para ver se o cisto tinha saído. No ultrassom, ela disse que o sisto não estava mais lá, mas que eu estava grávida de sete meses."
Disse que a notícia caiu como uma "bomba" na família. "Foi uma bomba, minha mãe quase teve um infarte. Meu pai no começo não aceitou, mas agora são eles que me ajudam", diz. O namorado, com quem tinha relacionamento de 1 ano e nove meses não quis saber da filha e nem a registrou.
Segundo ela, o bebê nasceu prematuro um mês depois pesando 4 kg e medindo 49 centímetros. "Quando me viam na rua, não falavam que eu estava grávida, não tinha barriga de grávida. Todas as roupas continuaram servindo. Ninguém percebeu, nem a minha mãe. Mas depois que eu descobri, em compensação, a barriga cresceu um montão. Acho que foi psicológico."
Adriana é diabética e diz que um dos problemas foi não ter feito o pré-natal desde o começo. "Eu corri contra o tempo, mas deu tudo certo. Minha filha nasceu perfeitinha." Adriana, que antes de ter o bebê era secretária na empresa do pai, quer voltar a trabalhar em 2010.
No avião
Em 2007, outra jovem, Giovanna Pereira, agora com 22 anos, entrou em trabalho de parto quando ia de avião de Santarém (PA) para a capital paraense, Belém, mas disse que não sabia que esperava um filho. Tinha passado recentemente por uma cirurgia de redução de estômago e estava com fortes dores no abdômen. Ia para Belém em busca de tratamento médico.
"Foi uma surpresa para todo mundo até para miim. No começo foi meio estranho, mas depois fui me acostumando", contou Giovanna. Segundo ela, os médicos disseram que a filha, Maria Valentina, nasceu de nove meses.
Giovana conta que seis meses antes da filha nascer tinha feito uma cirurgia de redução do estômago – já estaria com três meses de gestação durante a intervenção. Ela não suspeitou da gravidez porque emagreceu mais de 40 kg – pesava 120 kg antes da cirurgia e quando a bebê nasceu estava com 80 kg. Atualmente, está com 75 kg. "Eu tinha uma barriga, mas era flácida, não era barriga de grávida."
Giovanna diz que algumas pessoas duvidaram que ela não sabia. "Eu não sentia o bebê mexer, nada. Fiz exames para a cirurgia e nunca apareceu nada. (…) Meus pais acreditaram em mim, porque sempre disse a verdade para eles. Mas muita gente achava que eu estava mentindo."
Memória
O caso da atleta chilena Elizabeth não é o primeiro entre esportistas. Em 2005, a jogadora de basquete Sílvia Gustavo viveu uma história parecida. Entre a descoberta da gravidez e o nascimento do filho, o processo levou três dias.
Visão médica
Segundo médicos consultados pelo G1, é possível uma mulher chegar a um nível mais adiantado da gestação sem saber que espera um bebê, principalmente entre mulheres atletas ou obesas, uma vez que a menstruação pode ser desregulada nesses casos. No caso das atletas, a rigidez dos músculos pode ainda retardar o crescimento da barriga, enquanto que nas obesas, o excesso de gordura pode disfarçar.
Alguns especialistas, no entanto, questionam o fato de não se perceber a gestação a partir do segundo trimestre, quando o bebê começa a se mexer na barriga da mãe. Outros dizem sim ser possível chegar ao último trimestre sem saber, mas avaliam como caso raro e apontam ainda que muitas mulheres, embora saibam, se negam a aceitar o fato.
Para Raul Santos de Oliveira, médico do esporte do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Cemafe/Unifesp), é raro que a mulher não perceba a gravidez no sexto mês, por exemplo. "Há muitos casos de pessoas que escondem a gravidez, mas é possível não perceber. São casos extremamente isolados. Acho que não perceber em dois, três meses pode acontecer. Mas depois o bebê começa a mexer."
A ginecologista Clarice Stein, diretora da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), diz ainda que não o perceber pode ser um problema psicológico.
"As atletas podem passar períodos grandes sem menstruar, mas o corpo vai dando outros indícios da gravidez. E com seis meses, há a movimentação fetal, que é a coisa mais importante. (…) Algumas percebem, mas acabam negando a percepção das alterações. É difícil não perceber com um feto, um bebê, mexendo dentro da barriga. Às vezes por receio, medos dos pais, pela carreira, negam o fato."