Sobrinho de um dos maiores pilotos da história do automobilismo, o brasileiro Bruno Senna fará sua estreia na Fórmula 1 em 2010, sob o olhar atento e crítico dos amantes da velocidade em todo o planeta. No volante da Campos – uma das equipes novatas no grid –, mais do que tentar levar o sobrenome novamente ao pódio, o paulistano de 26 anos terá a missão de superar uma sina que já vitimou duas dinastias de brasileiros.
Inicialmente, a tarefa de Senna será ir mais longe do que Christian Fittipaldi e Nelsinho Piquet em suas trajetórias na F1 – o que não pode ser considerada uma missão impossível. Na principal categoria do automobilismo mundial, tanto o sobrinho de Emerson Fittipaldi quanto o filho de Nelson Piquet decepcionaram não só a família como também os amantes da velocidade no Brasil (leia mais).
Em 2010, caberá ao novato Bruno Senna começar a mudar essa história de frustrações. “Fiz umas cinco mil entrevistas até hoje e, talvez, em 99% delas, mencionaram o nome do Ayrton”, comenta o piloto. “Por um lado, é ruim, mas acredito que isso vai diminuir um pouco quando me conhecerem mais. A melhor maneira de criar uma identidade própria é obtendo resultados, e a F1 é a melhor vitrine.”
A presença de membros de uma mesma família na Fórmula 1 é mais do que comum. Em 59 anos de disputa, além dos três clãs brasileiros, outras 18 famílias já foram representadas por mais de um piloto. Destas, 11 tiveram membros de duas gerações com um mesmo sobrenome, como é o caso de Bruno Senna, sobrinho do tricampeão Ayrton.
Na contramão do sucesso
Se considerarmos a história dos filhos e sobrinhos de pilotos que, anos depois, conseguiram recolocar os sobrenomes campeões novamente no grid, a expectativa para a passagem de Bruno na categoria não seria das melhores. Em quase seis décadas, apenas dois herdeiros (Damon Hill e Jacques Villeneuve) conseguiram chegar ao título mundial — curiosamente, em anos consecutivos (1996 e 1997) e ambos pela mesma equipe, a Williams.
Além do histórico dos clãs na F1 não favorecer, Bruno ainda terá de superar uma série de adversidades. Sua carreira no automobilismo é muito menor do que a de todos os rivais, justamente por conta do acidente que vitimou o tio, em 1994, em Ímola. À época no kart, Bruno parou de competir após a morte do tricampeão e só voltou às pistas em 2004, na F-BMW Inglesa.
Com isso, deixou de passar pelo processo natural de evolução de um piloto. “Nunca deixei de gostar de automobilismo, mesmo com o acidente do Ayrton”, afirma. “Foi uma tortura parar. Durou um tempão e, quando voltei, machucava as costelas no kart. Foi um retorno bem conturbado, mas em poucos anos tive uma boa performance e estou competitivo, chegando à F1.”
O brasileiro também terá de vencer a limitação de testes imposta pelo regulamento da F1 e o fato de, ao longo de 2009, não ter feito nenhuma corrida em monopostos — competiu na Le Mans Series e nas 24 Horas de Le Mans. Outro aspecto que pode prejudicar o vice-campeão da GP2 em 2008 é a própria equipe Campos, uma estreante, sem o know how e o poderio financeiro de rivais já estabelecidas, como Ferrari, Williams e McLaren, ou mesmo a novata e já campeã Brawn.
Sinal verde para a vitória
Mas se há razões suficientes para que não se ponha muita fé no piloto brasileiro, existem também motivos para se acreditar que, desta vez, o herdeiro poderá ir longe como seu o antecessor.
Para começar, Bruno tem uma das mais impressionantes trajetórias no automobilismo dos últimos anos. Se não conquistou títulos nas categorias menores – fato, aliás, comum entre muitos dos que viriam a se destacar na F1 –, o brasileiro passou, notadamente, por uma grande evolução como piloto, conquistando o respeito de boa parte da imprensa especializada.
Na ótica dos especialistas, desde 2004, quando disputou algumas corridas da F-BMW Inglesa, até 2008, quando foi vice na GP2, Bruno ascendeu da condição de total incógnita à de um piloto extremamente competitivo. “Acho que, em pouco tempo, tive bastante aprendizado e sucesso, mas ainda tenho muita coisa para aprender. É importante ter determinação e força, mas se for para dar uma nota para isso, eu me daria uma nota 8,5 ou 9”, diz Bruno Senna.
Para ele, o fato de não ter disputado apenas em Le Mans não é exatamente um problema. “Aprendi bem rápido nos últimos quatro anos de automobilismo. Neste último ano, fiquei fora de carros de fórmula, mas aprendi muitas coisas que vão me dar experiência”, explica o piloto. “Vi como era a questão do consumo de combustível, de desgaste de pneu, de trabalho em equipe, no acerto do carro e na conversa com os companheiros. De certa forma, a temporada no endurance é mais densa intelectualmente que a da GP2.”
Em 2010, aos 26 anos, o paulistano terá a difícil tarefa de se firmar na F1 sendo “velho” para os padrões atuais de contratação de pilotos – cada vez mais jovens, descolados e midiáticos. Apesar disso, a menos que fracasse fragorosamente em 2010, terá mercado para mais um ano e, assim, poderá se adaptar melhor ao ambiente e ao carro. Tempo, portanto, não deverá ser problema.
E se depender da vontade do piloto, velho ou não para entrar na categoria, suas chances de decolar na Fórmula 1 – no bom sentido – são grandes. “Velho demais, não. Mas pela tendência do esporte em geral e da própria F1, eu estou um pouco mais avançado que os outros”, admite. “Mas o que importa, na verdade, é a motivação interna, o quanto eu estou inspirado para fazer minha carreira. E eu tenho muita motivação, porque tenho muitos anos pela frente”, conclui.