A troca no comando da Petrobras é um primeiro passo para melhorar a imagem da empresa no mercado internacional, mas a companhia ainda terá um longo caminho para recuperar a confiança dos investidores, dizem analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Nesta quarta-feira, a estatal anunciou que sua presidente, Graça Foster, e cinco diretores executivos renunciaram e serão substituídos na próxima reunião do Conselho Executivo, na sexta-feira. As ações da Petrobras valorizaram 15% na terça-feira em meio às especulações sobre a troca de comando.
Jornais dizem que a escolha dos novos presidente e diretores deve seguir critérios técnicos e privilegiar "nomes do mercado". A substituição buscaria melhorar a imagem da empresa num momento em que a Petrobras lida com uma série de denúncias de corrupção e ameaças de processos até no exterior.
Para Irene Mia, diretora de América Latina da Economist Intelligence Unit, a mudança no comando é reconfortante para os investidores e deve gerar uma alta nos papéis da companhia no curto prazo.
Ela afirma, no entanto, que a recuperação da estatal depende dos desdobramentos do escândalo de corrupção em que está envolvida.
"Ainda estamos no começo do escândalo, e, se as denúncias envolverem altos funcionários do governo, isso pode também afetar a imagem da empresa", diz Mia à BBC Brasil.
Para ela, além da troca do comando, os investidores esperam que a Petrobras anuncie ações para se tornar mais transparente e se proteger de instabilidades políticas futuras.
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Mudança
Gary Kleiman, analista independente de mercados emergentes de Nova York, diz que a saída de Graça Foster ajuda a recuperar parte das perdas nos papéis da empresa, mas não é o suficiente para acalmar os investidores.
Ele diz que ainda há grande incerteza quanto ao tamanho da dívida da empresa e que os preços em baixa do petróleo impõe uma dificuldade adicional à companhia. Para ele, a depender da dimensão do rombo, a crise da Petrobras pode ainda vir a afetar seus credores, entre os quais bancos brasileiros e estrangeiros.
Para João Augusto de Castro Neves, diretor de América Latina da consultoria Eurasia Group em Washington, com a troca no comando da Petrobras o governo tenta "começar a virar o jogo".
Ele afirma que a nova diretoria da empresa tende a ser "mais despolitizada" e a "seguir mais os interesses dos acionistas que do governo".
"A Graça Foster tinha duas lealdades, os acionistas e o governo, e muitas vezes essas lealdades se misturavam e eram incompatíveis."
Para Neves, a troca no comando torna mais provável que a Petrobtras mude algumas estratégias que vêm lhe rendendo críticas entre os investidores, como sua política que exige alto percentual de produtos nacionais em suas compras e até seu modelo de investimentos no pré-sal.
Ele afirma, no entanto, que "não existe bala de prata para resolver os problemas" da companhia.
Já Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, diz que o modo como a substituição de Graça Foster está sendo conduzida cria mais dúvidas que esperanças de que a crise na estatal será resolvida logo.
"Agora sabemos que a presidente da empresa vai sair, mas não sabemos quem vai entrar no lugar dela, o que não ajuda muito. Também sabemos que cinco dos sete diretores estão fora – mas não sabemos quem fica. Talvez a reunião do conselho administrativo na sexta-feira esclareça essas questões, mas essa incerteza não envia um bom sinal para os investidores estrangeiros."
Para o analista, o grande desafio do novo presidente da Petrobras é separar os problemas criminais do resto das atividades da empresa.
"A Petrobras não pode ficar esperando o resultado das investigações da polícia", diz ele.
"A empresa precisa contratar urgentemente uma auditoria de grande reputação que faça uma avaliação de seus ativos e coloque as informações sobre os resultados da companhia em dia. Não pode parar de fazer seu trabalho, que é explorar petróleo, por causa da (operação) Lava Jato."