Gerônimo José da Silva, 36 anos, pernambucano de Casa Amarela, analfabeto. De longe, só mais um pobre chamado José. De perto, um artista popular nato, que busca espaço e reconhecimento de uma parada de ônibus a outra da capital alagoana. Seu nome pode não ser conhecido, mas sua voz e suas composições têm se propagado cada vez mais entre os usuários do transporte coletivo de Maceió.
Suas músicas carregam o Nordeste no ritmo. Irreverentes, sensuais, ácidas, ou poemas de amor com grandes doses de criatividade. Gerônimo, ou Baixinho do Triângulo, como é conhecido, sonha em gravar um CD e ser conhecido pelo grande público. O pernambucano perdeu as contas do número de apresentações que faz por dia nos ônibus e se surpreende com o fato de sua música estar se disseminando pela internet, nos toques de celular e na mídia.
Sua composição mais conhecida “O gato devorador com a gata devoradora” tem como tema a paixão animal. Não há como não se divertir ouvindo trechos como “vou te lamber todinha meu amor, vou te lamber todinha. Eu quero ser seu gato e você a minha gatinha”, entre uma imitação e outra dos gatos no cio; ou algo como “Pegue o telefone, chame a Samu!”.
A equipe do Alagoas24Horas foi ao encontro de Gerônimo na Cidade de Lona, no Conjunto Eustáquio Gomes, onde mora, para conhecer um pouco do seu trabalho e acabou pegando carona numa viagem sem destino certo. “Eu desço de um ônibus, já procuro outro e por aí sigo fazendo minha arte para sobreviver”, explicou, antes de partirmos no Eustáquio Gomes/Centro.
Baixinho conta que a preparação para suas apresentações é simples. “Não é qualquer ônibus que dá pra pegar. Prefiro os maiores, com três portas por que chacoalham menos, fazem menos barulho e eu não forço tanto a voz, além do que fico na porta do meio e não atrapalho a passagem. O som ritmado das músicas logo contagia todo o ônibus, inclusive o cobrador, que acompanha no batuque.
A apresentação termina com um pequeno histórico do seu trabalho e um pedido de colaboração.
Batalha
Gerônimo, que canta desde os sete anos nos ônibus e metrôs de Recife, está em Maceió há cerca de um ano. Veio apenas com a carteira profissional e o CPF em busca de uma vida melhor. Apesar de viver como nômade, de barraco em barraco, sozinho, driblando a miséria, ele afirma que encontrou em Maceió oportunidade.
“Recife é mais desenvolvido, mas em Maceió eu consegui coisas que a vida inteira nunca consegui: oportunidade. Aqui eu vivo melhor e o que ganho dá para viver”, disse Gerônimo. Ele ganha de R$ 10 a R$ 30 trabalhando o dia inteiro, todos os dias da semana.
Analfabeto, ele conta que freqüentou a escola dois anos, entretanto, não chegou a aprender a ler e escrever. O mais surpreendente é que mesmo sem o domínio da escrita, compôs centenas de canções que guarda apenas na memória. “Sei todas elas, se tiver que cantar todas, eu canto. Inclusive, teve uma que alguém roubou em Recife e quando menos espero tinha sido gravada. Chamava-se ‘Meu Bem me Carregue’ e como não tinha direitos autorais, não pude fazer nada”.
Recentemente, um amigo se propôs a levá-lo ao programa do humorista Tom Cavalcante, em São Paulo, mas a falta de documentação adiou a viagem. A possibilidade de ir para um programa de TV renova as esperanças do artista. “Eu até cheguei a gravar, recentemente, um CD com 12 músicas na Rádio Palmares, mas é amador. O que eu queria era poder gravar um CD de verdade, com qualidade, com alguns músicos me acompanhando, aí daria para divulgar nas rádios”, comentou entusiasmado.
“Pessoal, este é um pouco do trabalho que faço para ganhar a vida. Um pouco da minha arte, é a minha história. Por isso, gostaria de pedir a colaboração de vocês para um artista que só está tentando um lugar nesse universo maravilhoso que se chama planeta terra”, finaliza.