Agência Estado
Ele decidiu dar um tempo. Depois de causar rebuliço no Orkut ao espalhar um ‘vírus’ que infectou mais de 400 mil usuários, o estudante e ‘programador por hobby’ Rodrigo Lacerda passa agora dias tranqüilos ao sol de João Pessoa, na Paraíba. Bem longe do computador e das milhares de mensagens raivosas na rede social que o qualificam como ‘idiota, amador e retardado’, só para ficar nos adjetivos publicáveis. Há até uma comunidade intitulada ‘Procurado: Rodrigo Lacerda’, cuja descrição é ‘ajude a encontrar esse marginal’.
Achá-lo não é fácil. Ele sumiu há quase um mês da web. Não dá as caras no fórum de programação no qual é administrador; não escreve no blog; o perfil no Orkut foi excluído; o e-mail não existe mais; no celular, só dá caixa postal. Onde foi parar o cara que ‘bagunçou o Orkut?’ ‘Estou em férias’, disse à reportagem em sua primeira entrevista após o furdunço que causou na rede. ‘Só pensarei em internet em fevereiro, quando voltar a São Paulo.’
As férias de Lacerda começaram quatro dias após seu ‘experimento’ no Orkut, no que se tornou o maior ataque já registrado no site até hoje. Em 18 de dezembro, ele lançou um código malicioso – um script – que se alastrava como praga em plantação. Funcionava assim: uma pessoa recebia ‘de um amigo’ uma mensagem no scrapbook com votos de um ‘feliz 2008’. Quando lia a mensagem, uma cópia era automaticamente enviada para os amigos da lista.
Não bastasse o spam, o ‘infectado’ ainda era automaticamente adicionado na comunidade ‘Infectados pelo vírus do Orkut.’ O crescimento no número de usuários da comunidade foi incrível. ‘Comecei às 19h30 do dia 18. Às 4h do dia 19, eram mais de 400 mil membros’, conta. Há um vídeo na web que mostra a velocidade: cerca de mil novos membros por segundo. Veja em http://tinyurl.com/37cv2c.
FALHA
Segundo Lacerda, o código foi criado a partir de uma falha achada no Orkut. ‘Um indiano me mostrou e vi que ela permitiria rodar um código no campo de mensagens. Em 15 minutos, fiz o código e o coloquei no scrapbook de um amigo. Aí começou o efeito em rede’, diz. ‘Não era um vírus, pois não instalava nada no PC da pessoa. Mas chamei de ‘vírus’ pois o código se alastrava muito rapidamente, como um vírus de computador.’
O Google, dono do Orkut, agiu logo e, por volta das 4h do dia 19, a brecha já tinha sido solucionada. Procurada pela reportagem, a empresa só enviou um comunicado. ‘A equipe do Orkut trabalhou até tarde da noite para corrigir a questão’, diz a nota. ‘Esperamos que o ocorrido não tenha causado muitos inconvenientes aos usuários.’
A brincadeira divide opiniões
A ‘molecagem’ de Rodrigo Lacerda no Orkut causou repercussões diversas dentro e fora da rede social. Se houve quem disparasse ofensas pesadas por ter sido lesado, houve também quem elogiasse o programador por mostrar uma falha grave no site.
No Google, uma busca por ‘infectados pelo vírus do Orkut’, o nome da comunidade na qual todas as vítimas foram cadastradas, mostra 18.400 resultados.
Na famigerada comunidade, muitos xingavam o criador da ‘praga’. ‘Que nerd babaca’ e ‘quero mais é que o Orkut o pegue’ foram algumas das frases. Outros elogiavam: ‘o cara é muito f.. pelo que fez’, escreveu um internauta. ‘Ele fez um favor. Está aqui só para mostrar uma vulnerabilidade’, postou outro.
No meio da confusão, foram criados tópicos como ‘tô com medo’ e ‘quero sair’, em que as pessoas diziam não conseguir mais mandar scraps, achavam que teriam a conta do Orkut roubada, etc. No fim das contas, quando o ‘vírus’ foi desmascarado, a comunidade ‘Infectados pelo vírus do Orkut’ virou um grande chat coletivo, sem tema definido, para falar bobagem. ‘Mas ela já está perdendo a graça’, postou uma internauta.
Na internet, o ‘feito’ de Lacerda foi parar em vários sites de notícias sobre tecnologia. Inclusive nos gringos.