O Uso da Palavra

Uma das grandes dádivas que Deus concedeu aos chamados ¨seres humanos ¨ foi o dom da palavra. Naturalmente ELE o fez com a certeza, ou mesmo esperança de que ela seria usada para comunicação sempre no bom sentido, permitindo assim a transmissão de conhecimentos, a integração de sociedades harmônicas e bem sólidas pela lealdade e ajuda mútua, longe de interesses outros que não aqueles mais puros em que todos estariam buscando e dividindo a felicidade.
Não cremos que seja possível essa busca e essa partilha senão fundamentadas nesses princípios.
Sabemos que a vida nos oferece muitos caminhos e que, com a vivência, aprendemos a escolher o melhor deles, entretanto muitas vezes a definição dessa escolha está na dependência de como cada um desenvolve seus conceitos sobre caráter, moral, honra e finalmente respeito ao próximo.
Infelizmente, parece que a humanidade cresceu muito só em número. É verdade que evoluiu em vários setores desenvolvidos pelo intelecto e perseverança de bons pesquisadores, que souberam bem utilizar a palavra para fundamentar suas pesquisas e difundir suas idéias, porém paralelamente, parece que a humanidade involuiu, progressiva e proporcionalmente, no que se refere ao respeito pelos princípios morais estabelecidos e que devem ser o farol norteador da responsabilidade de cada um.
Uma manifestação muito evidente desse fato é o que observamos frequentemente em relação ao¨direito¨do uso da palavra, seja nos meios eletrônicos, (televisão, rádio, internet etc.) seja na imprensa, enfim, na mídia em geral. Mesmo em sociedade, na roda de amigos ou até em encontros com desconhecidos identificamos interessados em divulgar o que ouviram dizer sobre alguém que, na maioria dos casos sequer sabem quem realmente é. A palavra fica solta e geralmente passa a ser usada imprudentemente já que depois de serem verbalizadas, jamais poderão ser recuperadas ou corrigidas para que evitem causar os efeitos nocivos que possam conter, levando à consumação de injustiças imperdoáveis.
A palavra, portanto, não pode estar solta. Deve ser contida, ponderada e analisada, especialmente quando faz parte de alguma mensagem inconseqüente, que pode atingir a honra e dignidade de alguém.

Conta-se em parábolas que DEUS, preocupado com a possibilidade de uso indevido da palavra, colocou anatomicamente um freio na língua de todos nós; não contente, colocou como barreira os arcos dentais; não contente ainda, colocou os lábios e seu conjunto de fortes músculos com a função de permitir o selamento da boca para bloquear as palavras possivelmente indevidas. Tudo parecia perfeito e a segurança era evidente, entretanto Deus ainda não estava contente, pois conhecia a natureza humana e o perigo do mau uso da palavra por quem não tivesse o recurso de uma barreira ainda maior. Pois bem, ELE proveu o homem de uma força controladora da língua e, conseqüentemente da palavra: A consciência.
Lamentavelmente, apesar de tantos cuidados por parte do nosso Criador, o que temos visto proliferar é a disseminação de boatos ou a interpretação maldosa de fatos que são sempre acrescidos de tons mais fortes, à medida que alcançam os ouvidos de cada pessoa que compactua com aquela maneira de pensar, multiplicando assim o poder de maculação da honra da pessoa atingida.
É a instituição do pré-julgamento. Notícias são veiculadas sem qualquer avaliação maior, são tomadas como verdade para gáudio daqueles que não agem com uma consciência pura e, por isso mesmo, sentem-se gratificados por terem assunto para conversar, mesmo sem medir as conseqüências de sua fala.
Um ato de tamanha irresponsabilidade, até que possa ser devidamente esclarecido, já causou danos irrecuperáveis, pois como disse o monge a um pecador arrependido: aquele que joga um saco de penas ao vento jamais poderá recolhe-las todas novamente. Tal qual as penas, assim também as palavras.
Um outro sábio já dizia que as pessoas vulgares conversam sempre sobre outras pessoas; as medianas conversam sobre amenidades e sobre si mesmas avaliando suas próprias vidas, enquanto que outras mais diferenciadas pela formação e caráter, falam e discutem sobre idéias.
É o momento de entrarmos neste último grupo. Vamos debater idéias em nossas conversas. Vamos construir fazendo bom uso de nossas palavras e em cada momento de nossas orações vamos repetir: ¨Senhor, quero ver os meus semelhantes como TU mesmo os vê e assim não ver senão o bem em cada um. Fecha meus ouvidos a toda calúnia, guarda minha língua de toda maldade e que só de bênçãos se encha meu espírito. ¨
Onde fica então a consciência?
Será que alguém que ajudou a propagar e multiplicar inverdades simplesmente por ouvir dizer consegue dormir tranquilamente? Será que é possível enfrentar olho no olho a família e os amigos? Será que é possível entrar em um templo e pedir benesses para si sem sequer pedir perdão a Deus por infortúnios que as palavras mal utilizadas podem ter causado?
Talvez com essa oração seja possível despertar a consciência, última e mais forte barreira que DEUS nos deu para conter a nossa língua.
É tempo de evitar maiores demandas judiciais e mesmo de violência, por conta da palavra mal utilizada.
É tempo de procurar respeitar mais os nossos semelhantes. É tempo de abominar o hábito de julgar os outros como se fossemos perfeitos.
É tempo de esquecer a vida alheia e cuidar melhor da nossa, para que possamos sempre semear o bem. É tempo de evoluirmos para alcançar a graça de ter melhores idéias para serem temas das nossas conversas. É tempo de termos muito mais cuidado com o uso das nossas palavras.

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