O presidente eleito na Rússia, Dmitry Medvedev, prometeu continuar as políticas adotadas por Vladimir Putin.
"(As minhas políticas) serão uma continuação direta da trilha seguida por Vladimir Putin", disse Medvedev, o candidato governista, que levou sete de cada dez votos válidos depositados nas urnas nas eleições de domingo.
Com 99,45% dos votos apurados, os resultados davam 70,23% dos votos para Medvedev, 17,76% para Gennady Zyuganov, do Partido Comunista, 9,37% para Vladimir Zhirinovsky, do Partido Liberal Democrático e 1,29% para o candidato independente Andre Bogdanov.
Medvedev confirmou o nome de Vladimir Putin para primeiro-ministro, mas afirmou que o lugar do premiê "é na Casa Branca" (se referindo a um prédio fora do Kremlin).
Analistas dizem que ainda há incertezas em relação ao futuro da política russa com um novo presidente relativamente pouco conhecido no Kremlin e um primeiro-ministro do porte de Vladimir Putin tocando o dia-a-dia do Executivo.
A posse de Medvedev será no dia 7 de maio.
Segundo a comissão eleitoral, o comparecimento às urnas foi de quase 68%, acima do índice registrado nas eleições parlamentares de dezembro, de 63,71%.
Mas a disputa também foi marcada por acusações de irregularidades e uma forte campanha para levar os eleitores às urnas.
Há relatos de que funcionários teriam sido pressionados pelos patrões a votar.
Além disso, em muitos locais, os eleitores receberam todo tipo de incentivo, desde comida barata a ingressos de cinema, para participar. Isso porque umbaixo comparecimento poderia colocar em dúvida a legitimidade da vitória de Medvedev.
O candidatos Zyuganov e Zhirinovsky contestaram os resultados. E o poucos observadores independentes que acompanharam as eleições também se disseram preocupados, por exemplo, com o índice extraordinário de mais de 90% de comparecimento registrado em algumas regiões.
O Kremlin nega qualquer irregularidade.
A coalizão Rússia Unida, que reúne grupos de oposição e conta com a participação do ex-campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, disse que irá realizar uma passeata em protesto contra as eleições neste domingo nas ruas de Moscou e São Petersburgo nesta segunda-feira.
Dmitry Medvedev chega à Presidência russa aos 42 anos depois de trabalhar de perto ao lado do ex-presidente Vladimir Putin desde os anos 90.
A vitória foi possível, segundo analistas, graças à alta popularidade de Putin, que deixa o poder depois de oito anos. A Constituição russa não permite um terceiro mandato consecutivo.
Apesar da saída de Putin do Kremlin, sede da Presidência, muitos se perguntam quem estará de fato no comando do país.
Mas essa é apenas uma das questões desse período pós-eleição. Outra é se Medvedev terá a mesma sorte de Putin, que governou em um período de alta da demanda e dos preços do petróleo e do gás, produtos que o país têm em abundância. E se ele terá condições de enfrentar os desafios que tem pela frente.
A economia da Rússia é altamente dependente da produção e demanda de petróleo e gás, que representam cerca de 60% das exportações. Por isso, a diversificação da economia será um dos principais desafios de Medvedev.
"Para isso são necessárias reformas profundas, mas as reformas são normalmente impopulares. E o tempo dirá se ele estará disposto a encarar esse desafio", afirma o correspondente do jornal espanhol El País na Rússia, Rodrigo Fernández.
Para o analista internacional Anatoly Sosnovsky, mais difícil ainda será reformar a máquina do Estado, ainda burocrática, corrupta e ineficiente.
Apesar do chamado "boom" econômico vivido pela Rússia durante o governo de Putin, Medvedev herda uma economia com uma inflação crescente, de cerca de 12%.
No último ano, o preço de alguns produtos chegou a aumentar 50%. Além disso, a desigualdade social tem escalado e, em locais afastados das grandes cidades, muitos russos ainda enfrentam dificuldades como falta de aquecimento e de água, que não são incomuns.
O novo presidente diz que quer reduzir a participação do Estado na economia e reformar empresas estatais para que elas continuem competitivas. No entanto, críticos afirmam que, como presidente da Gazprom, ele conseguiu implementar poucas reformas.