Para peritos, Isabella foi asfixiada e atirada

da Folha de S.Paulo

Os peritos do IML (Instituto Médico Legal) não têm mais dúvidas: a menina Isabella Nardoni, 5, foi mesmo atirada do apartamento de seu pai, Alexandre Alves Nardoni, 29, na noite de 29 de março. Até ontem, os peritos que analisaram o corpo da criança ainda divergiam sobre ela ter sido arremessada ou deixada no jardim onde seu corpo foi encontrado.

Além de concluir que Isabella foi jogada através de um buraco feito na tela de proteção de um quarto do sexto andar do prédio onde o pai vivia, na zona norte, os peritos também deverão apontar nos laudos sobre o crime que a queda foi determinante para a morte da menina.

Fachada do edifício London, na zona norte de São Paulo; a menina Isabella Oliveira Nardoni, 5, morreu depois de cair do sexto andar
Peritos do IML e do IC (Instituto de Criminalística) também confirmaram que, além da queda, a menina foi asfixiada, conforme revelou a Folha, muito provavelmente ainda dentro do apartamento do pai.

Um dos maiores desafios dos peritos do IML em apontar com exatidão a causa predominante da morte da menina é o "lapso de tempo" entre o momento em que ela foi sufocada e a queda no jardim. Tudo foi rápido, segundo os peritos.

Na janela de onde a menina foi jogada, os peritos do IC encontraram ontem marcas possivelmente deixadas pelas mãos de Isabella e que indicam que ela foi jogada de cabeça para baixo, já desacordada (em função da asfixia). Para determinar como exatamente Isabella atingiu o solo do jardim do prédio do pai, o IC examina o afundamento na grama onde ela foi achada.

Os peritos do IC, principalmente os que integram o Núcleo de Física, já descartaram a hipótese de que a queda tenha sido provocada por acidente. No entender dos especialistas, se Isabella tivesse escorregado, é mais provável que caísse perto da base do edifício. Se tivesse pulado, o corpo teria caído a uma distância maior do que a que foi encontrado.

Por causa da queda do sexto andar, Isabella apresentou uma fratura na bacia. A outra ruptura de um osso de seu corpo apareceu no pulso direito, mas, ainda na análise dos peritos, esse ferimento foi causado num possível movimento de defesa, quando ela deve ter sido espancada por quem, instantes depois, a jogou pela janela.

Além da bacia e do pulso direito fraturados, Isabella também apresentava luxação no osso hióide (pequeno e único osso, em forma de ferradura, situado na parte anterior do pescoço, na base da língua), a língua estava para fora da boca quando foi achada no jardim, com as unhas roxas e com manchas no pulmão e no coração, todos esses traumas causados provavelmente pela asfixia.

Um corte de cerca de dois centímetros na testa de Isabella é analisado como o possível causador das manchas de sangue que foram encontradas no apartamento de seu pai. Ontem, os peritos vasculharam o local para descobrir se o ferimento foi causado por um móvel ou não, mas não conseguiram determinar o que causou esse ferimento.

Desde o dia 3, o pai de Isabella, Alexandre Nardoni, e a mulher dele, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, 24, estão presos temporariamente –por 30 dias– como principais investigados pela morte. Ontem, os defensores do casal impetraram um habeas corpus com pedido de liberdade para o casal.

Pegada na cama

Outra importante pista averiguada pela perícia e pela Polícia Civil para tentar determinar quem atirou Isabella do apartamento de seu pai é uma pegada ao lado de um pingo de sangue no lençol da cama do quarto de onde a menina foi atirada. Para os peritos, a pegada indicará quem pisou na cama para chegar à janela e, dali, jogar Isabella no jardim do prédio.

Cerca de 30 pares de sapatos e tênis pertencentes ao pai e à madrasta de Isabella são analisados pelos peritos do caso. A perícia está atrás de possíveis imagens de circuitos de câmeras de locais públicos onde o casal estava horas antes do crime e, com elas, analisará os pares de calçados apreendidos.

O delegado Calixto Calil Filho, 9º DP (Carandiru), afirmou ontem que aguarda os resultados oficiais dos laudos periciais antes de voltar a ouvir o casal. Os laudos também devem ser importantes para a futura realização de uma reconstituição do crime.

No dia 4, o IML pediu mais 15 dias de prazo para concluir as perícias e entregar os laudos sobre a morte de Isabella. São três os exames ainda não concluídos: 1) radiológico; 2) toxicológico do casal e da menina e 3) anatomopatológica (análise microscópica dos órgãos).

Todos esses laudos serão anexados ao laudo necroscópico que irá determinar oficialmente a causa da morte da menina. De acordo com médicos do IML, dez amostras com sangue ou vestígios de sangue foram entregues para análise no IC. O órgão pretende confrontá-las com o sangue colhido de Isabella e do casal para determinar a quem ele pertence.

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