Rio – O litro de óleo de soja era um dos mais baratos da cesta básica no começo deste século. Só perdia para o alface, a laranja-pêra e o açúcar refinado. Passados sete anos, o consumidor encontra situação bem diferente nas prateleiras dos supermercados. Um dos principais ingredientes da cozinha é mais caro até que o frango inteiro. Só perde para carnes e o arroz de cinco quilos em uma lista com 19 produtos. Na loucura dos preços, o óleo não é o único a deixar o consumidor assustado na hora de comprar.
A pedido do ‘De Olho no Seu Bolso’, o economista André Braz, do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Getulio Vargas (FGV), comparou a variação de produtos essenciais, que compõem o prato do dia-a-dia do carioca neste século 21. Ao abrir os dados, as distorções dos preços ficam mais gritantes. Dos 19 produtos da cesta, 12 custavam, em média, menos de R$ 1,50 em 2001. Hoje, apenas quatro.
Com duas moedas (uma de R$ 1 e outra de R$ 0,50), o consumidor conseguia, há sete anos, comprar o feijão-preto e ainda levava troco no caixa. O grão, que custava, em média, R$ 1,49, agora mais que dobrou: chega aos R$ 3,52 — em alguns casos ainda mais perto dos R$ 4.
QUEDA DE APENAS 2 ITENS
Com altas seguidas desde junho de 2007, o feijão deixou de ser servido todos os dias na mesa de muitos brasileiros, em especial os da baixa renda. Na lista da cesta básica, o produto ficava atrás do tomate, do leite longa vida e do macarrão em 2001.
Em maio do ano passado, ainda era mais em conta: só não custava menos que o alface e o açúcar. Mês passado, com reposicionamento de preço, após 10 meses de altas seguidas, o feijão perdeu somente para os atuais vilões do consumidor: óleo de soja, carne bovina e arroz (5kg). Nos 12 meses, acumula alta de 125% no Rio.
O mamão papaya é outro exemplo: está mais caro que o frango e o quilo sai quase o preço do óleo de soja. As carnes pesam ainda mais no bolso. O frango subiu no período 39% e as carnes, até 75% (confira valores no gráfico abaixo). O músculo puxou a alta, acompanhado em seguida pelo patinho (74%).
“De maio de 2007 a abril de 2008, esses 19 produtos ficaram em média 22,88% mais caros. Nestes 12 meses, o feijão e os derivados da soja foram os que mais contribuíram para essa alta, pela importância na mesa do consumidor”, explica André Braz. Dos 19 produtos pesquisados, apenas dois baixaram de preço em um ano (batata-inglesa e açúcar refinado). A disparada se explica por diversos fatores: variação climática e aumento na cotação internacional.
ARROZ, CARNE E TRIGO CUIDADO COM ELES
O IPC-RJ fechou em abril com variação de 0,83%. Para se ter uma dimensão da alta nos preços dos alimentos, representaram 65% do índice. Além de hortaliças e legumes, frutas, em especial o mamão papaya (alta de 45%), aumentaram de preço. Mas a carne bovina, o arroz branco e os derivados do trigo, como macarrão, pães e biscoitos, são os vilões da vez no bolso do consumidor.
A crise na importação da Argentina elevou ainda mais o preço do arroz. E não há sinais de que o preço vai cair tão cedo. O saco com 5kg do produto, que já custou R$ 5,05, não sai por menos de R$ 8. A carne também deve continuar em alta. Motivo: aumento nas exportações e ciclo de reprodução do rebanho afetado.
Os leites e derivados também continuam com valores mais altos.
PREÇOS PODEM CAIR
Ao analisar os dados do IPA (Índice de Preços no Atacado), o economista André Braz chama a atenção para alguns produtos que começaram a baixar. Depois de 10 meses de alta, a soja registrou em março e abril queda na cotação. “O preço da soja já mostra uma desaceleração e essa queda deve chegar à mesa dos consumidores”, alerta Braz.
O mesmo acontece com o milho. No IPA, registra alta de 33% em um ano. Mas, em março e abril, começou a baixar de preço no atacado. Além de ser um bom substituto para os produtos do trigo, o milho serve de ração e barateia custos do frango e, por conseqüência, do ovo.
O feijão-preto continua como vilão. Subiu 125% no Rio em 12 meses. Mas, em abril, pela primeira vez em 10 meses, começou timidamente a baixar (-0,79%).
MUDANÇA DE CULTURA
A dona-de- casa Mirian Santos Machado, 52 anos, acha que supermercado é “cultura”. “Quanto mais a gente compra, mais aprende a economizar”, ensina, a também pesquisadora da FGV. Mirian testa as marcas mais em conta para saber se o produto vale a pena. “Depois só compro elas”, diz. Com a alta dos alimentos, estoca os itens em promoção: aproveitou o mês de aniversário de um supermercado para comprar três quilos de feijão por R$ 2,89.
Mas alerta: não confie integralmente no selo de oferta. “Pesquise antes. Pode ter um lugar mais em conta”. Outra dica é comprar a soja em lojas de especiarias para substituir o feijão e também mais frango. Carne bovina só em dia de oferta. “O que sobra aproveito na panqueca, no estrogonofe…”, lembra Mirian. Quanto ao óleo de soja, evita fritura e, às vezes, usa a margarina: “Asso e cozinho mais. É mais saudável também para o bolso”.
O DIA/RJ