A TARDE ON LINE
A população feminina brasileira em idade reprodutiva é de 51,4 milhões de mulheres. Desse total, 7,2%, ou seja, 3,7 milhões, já induziu aborto. Os dados são da compilação "Aborto e Saúde Pública: 20 anos de pesquisas no Brasil", que reúne informações de 2.135 estudos realizados no país entre 1987 e 2007.
A análise mostra diversas tendências no país, como o perfil da mulher que aborta, práticas mais usadas e riscos, além de definir uma série de questões sobre as quais ainda não existem dados. As informações se basearam em mulheres que procuraram atendimento no SUS após o aborto.
De acordo com o estudo, a maior parte das mulheres que abortam no Brasil tem entre 20 e 29 anos, estão envolvidas em relacionamentos estáveis, com filhos. O método mais utilizado é o uso do comprimido misoprostol, o Cytotec. Não há registro de morte com o uso dessa droga.
Em todo o Brasil, os estudos apontam que as mulheres que decidiram abortar usavam métodos contraceptivos, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. No nordeste, algumas pesquisas reunidas apresentam baixo uso de anticoncepcionais: entre 60% e 67% das mulheres não evitam a gravidez.
"Esse perfil nos obriga a desconstruir a idéia de que as mulheres que abortam são aquelas levianas, em relações não-estabelecidas. Somos obrigados a entender a questão do aborto não mais como um problema de ‘outras’ mulheres", afirma a antropóloga Débora Diniz , da UnB, que conduziu o trabalho em parceria com a médica sanitarista Marilena Corrêa, da UERJ. Ambas pertencem à organização não-governamental Anis, dedicada à pesquisa de Bioética e Direitos Humanos.
A pesquisa de publicações sobre o assunto, além da avaliação, confronto de dados e redação do documento foi realizada entre setembro e dezembro de 2007, com financiamento do Ministério da Saúde. De acordo com Débora Diniz, o objetivo do trabalho é "sistematizar 20 anos de dados, para, a partir daí se pensar que novas evidências precisam ser postas em debate".
Tratamento privado – De acordo com o relatório, há diversas questões pendentes que precisam ser investigadas no país. Segundo os pesquisadores, a questão mais importante que ainda não foi investigada é o número de clínicas particulares que realizam aborto, como funcionam, número de mulheres atendidas, segurança dos procedimentos e porcentagem de mortes.
Faltam dados também sobre mulheres rurais e indígenas, nem relações transversais entre aborto e indicadores de desigualdade como raça, geração, classe social e deficiência, além da ligação entre a decisão de não ter o filho com a infecção por HIV/AIDS ou com violência sexual doméstica.
Também não há informações massivas sobre o comportamento das mulheres após um aborto: como se comportam, se têm arrependimento, se conseguem pôr a vida em ordem e se ganham auto-estima.