"Um apenado do semi-aberto chegou a pagar R$ 200 à direção do presídio para conseguir liberdade de um final de semana, quando ele efetuou o estupro de uma universitária na cidade de Areia, região do Brejo paraibano".
A revelação foi feita ontem à noite ao Portal Uol pelo delegado Gustavo Barros, da Polícia Federal, coordenador da Operação Albergue que desmantelou nessa quinta-feira (5) o tráfico de drogas, armas e privilégios para os presos que pagavam propinas a dirigentes da Penitenciária do Serrotão, de Campina Grande.
Nesse presídio “sob controle dos presos”, como afirmou o delegado em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (6), o ex-diretor Paulo Guilherme e o ex-diretor adjunto Sebastião Almeida, tenente da PM, estão entre os 19 presos presos durante a Operação Albergue.
Os dois, segundou apurou a PF, não apenas permitiam a venda de drogas e arma como abonavam faltas e assinavam a freqüência dos apenados que deveriam dormir no presídio, mas graças às propinas podiam passar até meses sem pisar no Serrotão. O delegado contou que até um preso do regime fechado saia quando queria. “Tinha preso do semi-aberto que pagava para não ir ao pernoite, tinha preso que pagava para não ir nunca”, acrescentou.
Ele disse ainda à repórter Cíntia Acayaba, da Agência Folha, que variava o valor pago pelos presos para ter privilégios e burlar o regime de cumprimento da pena a que foram condenados. Era “de acordo com o preso e com quem estava cobrando. Tem preso que pagou R$ 1.000 para passar o mês fora”.
Além disso, Paulo e Sebastião também seriam responsáveis pela guarda de todo o estoque de drogas, armas, dinheiro e outros objetos dos traficantes. Para tanto, utilizaram-se nada menos do que o cofre do almoxarifado do presídio.
Os apenados dedicados ao tráfico, por sua vez, "vendiam papelotes de maconha, pedras de crack para os companheiros de presídio e até pessoas de fora da unidade prisional. No comércio, também havia armas utilizadas para efetuar assassinatos de detentos, além de assaltos e crimes encomendados fora presídio e em cidades do interior da Paraíba", afirmou Gustavo Barros.
Ao avaliar a situação do presídio, o delegado observou que o Serrotão estava "sob controle dos presos" e os objetos de luxo com que mobiliavam as 22 casas construídas no interior da unidade entravam “de qualquer jeito”.
Muito provavelmente, tais objetos – entre os quais televisores de plasma, aparelhos de dvd, cd, freezer etc. – foram conseguidos mediante furto, roubo ou simplesmente comprados com dinheiro de origem duvidosa, vez que os membros da quadrilha se envolviam em outros crimes. “Cometeram assalto, tráfico, estupro e homicídio”, relatou o delegado.