Arroz sem feijão!

Rio de Janeiro – Estudo elaborado pelo economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que dois dos principais itens da feijoada, prato preferido da maioria dos brasileiros, superaram a inflação dos últimos oito anos. Segundo Braz, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor-Brasil (IPC-BR) subiu 69,41% entre 2001 e 2008, o feijão preto acumulou nesse período alta de 248,42% e o arroz de 146,76%.

Nos últimos 12 meses, contados entre julho de 2007 a junho de 2008, a variação média dos ingredientes da feijoada foi de 24,46%, superando o IPC acumulado de 5,96%. De acordo com o economista, essa é a maior elevação desde 2003, quando os 13 itens analisados subiram 35,96% em média e a inflação atingiu 16,12%.

Em entrevista à Agência Brasil, Braz disse que a pesquisa serviu para mostrar que produtos essenciais no dia-a-dia do brasileiro também tiveram uma alta expressiva nesse último período. O economista destacou que muitas pessoas que acompanham os números da inflação pela televisão e pelos jornais não se identificam com eles, porque a taxa divulgada pelos institutos de pesquisa é uma média da população, não é a inflação do indivíduo. "E muitas vezes há aquela afirmação de que essa inflação não existe: Eu paguei muito mais caro pelos meus produtos este mês”.

Ele explicou que na pesquisa, foi feita uma seleção menor de itens importantes na cesta de consumo das famílias, o que acaba aproximando os números da inflação da realidade da maioria dos consumidores. “Então, dá para ver que um produto extremamente popular, composto por itens que fazem parte das compras mensais das famílias, teve um aumento expressivo nos últimos 12 meses, principalmente quando se compara com igual período dos últimos anos.”

Braz destacou que o estudo demonstra que, ao longo do período 2001-2008, os produtos essenciais, que também são os mais baratos no preparo e no acompanhamento da feijoada, foram os que mais subiram: arroz, feijão e farinha de mandioca. A farinha de mandioca aumentou 120,69%. Já a carne defumada, a lingüiça e o lombinho, normalmente mais caros, subiram menos (55,98%, 51,07% e 67,10%, respectivamente) do que a inflação acumulada pelo IPC.

Para o economista, os aumentos no preço do feijão vão depender, entre outras coisas, da qualidade da nova safra. “O feijão subiu muito no ano passado. Este ano, até começou a ensaiar uma queda no preço, mas agora em junho começou a mostrar novamente tendência de alta”. Braz não acredita que em 2008 o feijão suba, mas admite que "vai pressionar a inflação.”

Quanto ao arroz, ele disse que a inflação foi provocada pelo aumento da demanda no mercado internacional, o que desviou o produto brasileiro para outros mercados, fazendo o preço interno subir. Braz acredita, porém, que esse movimento não vá continuar. “Como foi só uma questão de maior demanda internacional, essa demanda esfriando, como já vem acontecendo, a tendência é de o preço não subir tanto. E até cair no médio prazo”.

Agência Brasil

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