Fora de rítmo

É preciso apenas de um sinal positivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o ensino da música se torne obrigatório nas escolas de educação básica do país.

Já aprovado na Câmara dos Deputados, o projeto atrai uma legião de defensores, mas ainda há pontos que colocam em xeque a viabilidade de implantação. Professores capacitados, infra-estrutura nas escolas públicas, material didático e plano de aula são alguns dos pontos questionados por especialistas da área.

O projeto prevê que as aulas deverão ser ministradas por profissionais com formação específica na área, mas para a professora Cristina Grossi, vice-presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Musical), a carreira não é atraente. ‘O salário é baixo para uma aula que é desgastante’, afirma.

Ela conta que os formandos em música têm, hoje, duas opções: seguir uma carreira de musicista ou dar aula em escola técnica ou conservatório. Este mesmo profissional que vai ministrar uma aula no ensino básico, segundo Grossi, deve ter em mente que a abordagem é diferenciada para cada público.

"Além de ter de entender o universo da educação básica, esse professor pode se deparar com problemas de droga ou de comportamento dos alunos. Os cursos têm que ensinar a lidar com essas dificuldades sociais também. Faz parte da pedagogia", defende.

Situação dramática – Dilvo Ristoff, diretor de Educação Básica Presencial da Capes (órgão que cuida também da formação de professores no país), apresentou recentemente um estudo sobre a dificuldade que as escolas terão para se adaptar à implantação de novas disciplinas obrigatórias, como sociologia e filosofia.

Para ele, o ensino de artes como um todo é dramático no Brasil. "Temos 78.740 professores formados e, desses, só 16.678 estão atuando. Precisamos mais que o dobro para cobrir a demanda". Ristoff acredita que falta atratividade na carreira, como bom salário, um sistema de progressão da carreira, ambiente de trabalho agradável e seguro, além da valorização da profissão.

O projeto estabelece um prazo de três anos para que as escolas se adaptem à nova regra. "É preciso de um tempo para a transição maior do que quatro anos, que é o tempo de uma graduação. Se essa lei entra em vigor agora, vai faltar professores e a primeira geração se forma só em 2013. E precisamos levar em conta a evasão dos estudantes durante o curso".

Plano de aula – A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da Educação Nacional dá autonomia para que as escolas decidam sua proposta pedagógica, mas para a professora de piano da Faculdade de Música da UnB (Universidade de Brasília) Beatriz Salles, o programa da aula de música deve ser discutido antes de colocar em prática.

"O tipo de música e de aula é que preocupam. Há grupos que propõem a volta do coral, mas nem todo mundo tem que fazer a mesma coisa", fala. Salles lista uma série de atividades que podem ser desenvolvidas com os alunos. "Você pode trabalhar com coral, perspectiva de audição, vocal, instrumento musical, percussão corporal e até produção de rádio dentro da escola".

Segundo a professora, que acompanhou a tramitação do projeto no poder público, as escolas devem reservar um espaço para as aulas. "Pode ser um salão ou um auditório. E tem que estabelecer horário como todas as outras disciplinas porque é curricular. Aula de música é necessário, não é um luxo".

Fonte: Uol

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