Parece pouco, mas, para algumas pessoas, é tempo suficiente para despertar um grande amor, conquistar uma vitória consagradora ou até ter um vislumbre dos confins do universo. Este ano, a humanidade contará exatamente com um segundo a mais no calendário, acrescido artificialmente para que os relógios se ajustem à rotação cada vez mais lenta da Terra.
Este ano será especialmente longo pela combinação de dois fatores astronômicos: é ano bissexto e contará com um segundo a mais em razão de ajustes periódicos feitos nos relógios para manter a hora civil e a rotação do planeta em exata sintonia. Não é preciso que a população ajuste seus relógios à meia-noite de 31 de dezembro — como a correção é mínima, será feita nos equipamentos de alta precisão utilizados por cientistas como padrão para a hora oficial em todo o mundo. Isso é importante para o correto funcionamento de sistemas de precisão, como o GPS e a hora unificada da internet. O ajuste se deve a um processo que ocorre há milhares de anos: a Terra tende a girar sobre seu eixo cada vez mais lentamente devido ao efeito das marés.
— É algo normal, que tem origens na formação do sistema solar — sustenta o astrônomo da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) Luiz Augusto da Silva.
Embora a desaceleração seja imperceptível para os sentidos humanos, faz com que um dia tenha um pouco mais do que 24 horas. Atualmente, esse atraso é de aproximadamente dois milésimos de segundo por dia — o que, a cada 500 dias, aproximadamente, gera uma defasagem de um segundo em relação aos precisos relógios atômicos utilizados pelo consórcio internacional que administra o Tempo Universal Coordenado (TUC). Desde 1972, a hora mundial passou a ser tutelada pelo TUC, e em 24 oportunidades houve o acréscimo de um segundo para manter os relógios em harmonia.
Parece pouco? Um segundo é a diferença entre uma vitória consagradora ou uma frustrante derrota para a campeã gaúcha dos 100 metros rasos Ana Carolina Nique de Souza, 19 anos, da Sogipa. Mais do que isso: se o seu melhor tempo este ano baixasse um segundo, ela teria chance de ser campeã olímpica. Ela marcou 11,6 segundos em sua prova mais rápida, enquanto a jamaicana Shelly-Ann Fraser, ouro em Pequim, registrou 10,78 segundos.
— Com certeza, um segundo me colocaria entre as cinco melhores corredoras do mundo — projeta a jovem atleta, que nesse pequeno intervalo corre perto de nove metros, o equivalente à altura de um prédio de três andares.
Por apenas cinco centésimos, ela não alcançou o tempo para participar do campeonato mundial este ano. Por isso, sabe que não tem tempo a perder.
— O mínimo erro já dá uma diferença muito grande — conta a corredora.
Para o astrônomo Luiz Augusto da Silva, um segundo foi suficiente para vislumbrar um fenômeno raro. Em uma noite de 1988, ele aguardava uma estrela chamada Antares sair detrás da Lua. Próxima dela há outra estrela menor, chamada Antares B. Por ser pequena, é ofuscada pela estrela-irmã, e sua observação fica impossibilitada.
— Essa estrela menor acabou saindo primeiro detrás da Lua, e pude vê-la por um segundo. Em seguida, a maior apareceu e voltou a ofuscá-la — relembra o cientista, que testemunhou a importância que um mísero segundo pode ter.
Devido ao acréscimo de um segundo, em 2008
> quatro pessoas a mais vão nascer no mundo
> duas pessoas que morreriam em 2009 não verão o Réveillon
> meio hectare a mais de floresta será cortado no planeta
> um carro a mais será produzido
> três computadores a mais serão vendidos
> duas pessoas a mais vão se conectar à internet
ZERO HORA