Um grupo de assentados da reforma agrária, reunidos em torno da Cooperativa de Ovinocaprinocultores do Sertão de Alagoas (Cafisa), conseguiu fazer da atividade desenvolvida por eles um dos destaques da edição do livro Histórias de Sucesso-Coletânea 2006, do Sebrae.
O caso ‘Ovinocaprinocultura: a marca do Sertão’ é um exemplo que entra para a história econômica do Estado como um modelo de sucesso no empreendedorismo rural com inclusão social.
A Cafisa é formada por 266 pequenos produtores de 14 assentamentos localizados nos municípios de São José da Tapera, Pão de Açúcar, Santana do Ipanema, Maravilha e Poço das Trincheiras. A partir de outubro deste ano, eles passaram a fornecer leite pasteurizado, licor e iogurte de leite caprino a supermercados de Maceió. Esse é o começo de uma história bem-sucedida que começou em 2003, quando a Cafisa procurou o Sebrae em Alagoas. Os produtores que vinham acumulando conhecimento e tecnologias queriam “aumentar o negócio”.
Conseguiram mais competitividade e a sustentabilidade do pequeno negócio. De quebra, melhoraram a qualidade de vida dos cooperados com informações sobre as melhores práticas de gestão, e transferência de tecnologia para os empreendedores agroindustriais. A partir da sugestão do Sebrae estadual, os projetos das usinas de leite de cabra foram elaborados com bases técnicas comprovadas. Isso ajudou na hora de buscar apoio financeiro.
Com o dinheiro liberado pelo Banco do Nordeste em agosto de 2004, os produtores começaram a construção das unidades produtivas. Mais uma vez, a assistência técnica era um dos maiores gargalos a serem resolvidos para o alcance dos objetivos propostos. Como forma de priorizá-la, o Sebrae em Alagoas firmou convênio com a Fundação Banco do Brasil para formação de Agentes de Desenvolvimento Rural na atividade da ovinocaprinocultura.
Os agentes forneceram a orientação técnica sobre manejo animal, higiene nas instalações e treinamento do pessoal da ordenha. O Sebrae também assumiu a responsabilidade de executar o convênio. “Começamos a buscar nossa melhora em 2003. Em 2005, já estávamos produzindo um leite de cabra de qualidade, dentro das exigências dos órgãos públicos como o Serviço de Inspeção Estadual, e com bom preço de mercado”, relata Marco Antônio Salgueiro, presidente da Cafisa. Os produtores rurais da Cafisa conseguiram suprir em 50% a demanda por leite caprino para as mini-usinas dos assentamentos.
O produtor rural passou a ter um ganho direto na venda diária do leite à cooperativa e um indireto, quando o produto sai beneficiado e embalado pela Cafisa. O caso da Cafisa ajudou a destruir o mito de que não há alternativas ao problema da seca no sertão alagoano. Um pouco de ajuda do governo, apoio técnico constante de órgãos especializados e a transferência de conhecimento foram insumos fundamentais para a modificação da realidade dos assentados. “Antes, nós não tínhamos terra. Era preciso pedir um pedaço de terra emprestado para plantar. Hoje, temos casa e todos os equipamentos que um agricultor precisa”, compara Marco Antônio Salgueiro.
Obstáculos superados
O destaque obtido pela cooperativa começou com a intervenção do Sebrae estadual, relata Vânia Britto, analista da instituição. Após a consultoria em design oferecida pelo Sebrae, a cooperativa ganhou uma identidade visual que representa a história dos ex-sem-terra. Mas até chegar a ser um ‘Caso de Sucesso’ a cooperativa passou por várias reformulações. Em 2003, o presidente da cooperativa buscou apoio em diversos órgãos para o desenvolvimento da atividade de modo mais profissional na região.
A atividade era vista por ele como uma alternativa às condições adversas por que ele e seus companheiros passavam. Os cooperados queriam inserir uma gestão profissional em uma atividade tradicional como a ovinocaprinocultura, mas o ambiente não era favorável. Havia baixo nível tecnológico aplicado à criação, endividamento dos produtores e cultura associativa incipiente.
O baixo grau de instrução dos produtores e escassez de investimentos eram obstáculos que os produtores dificilmente venceriam sem ajuda especializada. “Faltava competitividade”, resume o presidente da cooperativa, já habituado à terminologia do mercado.
Banho
Além dos produtos alimentícios, a Cafisa dá sua contribuição ao setor dos cosméticos. A novidade da cooperativa agora é a produção de sabonete de leite de cabra feito pela associação comunitária do município de Maravilha. O sabonete, comercializado durante a I Feira de Agricultura Familiar de Alagoas, fez sucesso.
De acordo com a coordenadora estadual do Programa de Arranjos Produtivos Locais da Secretaria Executiva de Planejamento e Orçamento, Solange Viégas, essa comercialização é um incentivo à produção de maior qualidade, agregando mais valor ao produto e gerando rentabilidade às famílias envolvidas.
O Arranjo Produtivo Local (APL) da Ovinocaprinocultura desenvolve ações em 22 municípios da região do sertão alagoano. Atualmente, o APL envolve cerca de dois mil produtores e quatro assentamentos em Pão de Açúcar, São José da Tapera e Senador Rui Palmeira. Em Delmiro Gouveia, foi feita a licitação para a implantação de um frigorífico, que começará a ser construído este ano.
Desde que foi implantado pelo Governo do Estado, em parceria com o Sebrae, o Programa de Arranjos Produtivos Locais vem somando resultados nos setores de apicultura, piscicultura, mandioca, móveis, laticínios, turismo, cultura, tecnologia da informação e ovinocaprinocultura.