Navio encalhou com 1.600 passageiros
Embarcação saiu de Buenos Aires e teria como destino Punta del Este. Segundo a CVC, não há risco para os passageiros, que serão desembarcados.
Um navio fretado pela empresa CVC com 1.600 passageiros a bordo -a maioria brasileiros em férias- está encalhado no meio do rio da Prata, na Argentina, desde o início da noite de ontem.
A embarcação é o Sky Wonder, um navio de luxo que conta com piscina e até pista de cooper. A viagem de uma semana entre Buenos Aires e Punta del Este, no Uruguai, custou até US$ 1.680 por pessoa na cabine mais luxuosa.
Passageiros descrevem momentos de tensão, do incômodo para dormir por causa da inclinação do navio e reclamam da falta de informações.
A CVC diz que não há risco para os passageiros nem danos na estrutura do navio.
O plano de resgate previa a retirada dos passageiros ainda hoje com a ajuda de pequenas embarcações. Eles passariam o dia em Buenos Aires e retornariam ao Sky Wonder de noite, quando este já estivesse desencalhado.
No entanto, as autoridades portuárias argentinas não autorizaram a saída dos passageiros, alegando que não há risco nenhum, e a saída poderia provocar um tumulto ainda maior. Neste momento os passageiros continuam a bordo.
A situação de quem saiu de férias para um cruzeiro, no entanto, é bem diferente da prometida no site que anuncia a viagem: "Tendo o mar como horizonte, pessoas felizes ao redor e a certeza de que viver é bom demais", diz a propaganda.
O passageiro brasileiro João Arcy Q. Marinheiro descreveu que está ocorrendo dentro do Sky Wonder.
"Somos aproximadamente 1600 passageiros brasileiros e desde ontem, por volta das 19h locais, estamos encalhados a 3 Km do porto de Buenos Aires, no Rio da Prata. O navio está adernado, causando grande desconforto aos passageiros. Nenhuma informação ou esclarecimento foi dado aos passageiros. Apenas por volta das 21h [de ontem] informaram que o navio estava impedido de navegar por questões climáticas. Como pudemos notar, Buenos Aires e região encontram-se em perfeitas condições meteorológicas, portanto estamos desinformados e preocupados, pois não foram capazes de esclarecer a real situação, omitindo o fato de o navio ter encalhado. Há mais de dez horas, três rebocadores tentam puxar o navio de volta para o canal, pois o comandante português Augusto Moita errou o traçado, devidamente sinalizado por bóias iluminadas, e encontrou um banco de areia."
João Arcy Marinheiro diz ainda que um dos passageiros do grupo sentiu-se mal e dirigiu-se ao ambulatório do navio. "Após constatada que realmente a situação coronária do passageiro poderia se agravar, foi resolvido pelo médico de bordo o seu desembarque. O passageiro foi desembarcado em um barco na Prefeitura Naval de Buenos Aires."
A partir desse momento os amigos do passageiro -cujo nome não foi divulgado- passaram por momentos de tensão, pois ficaram horas sem informações sobre seu estado de saúde. Somente horas depois souberam que ele passava bem e se encontrava em observação, mas a custa de muito esforço.
"Após seis horas de tentativas frustradas perdemos a paciência e resolvemos por meios próprios tentar saber do estado do passageiro. Com o auxílio de um celular e um notebook, conseguimos contato com o passageiro e finalmente tivemos a notícia de que não estava morto, apenas em observação", narra João Arcy.
Uma outra passageira narrou o que ocorre dentro do Sky Wonder. A paulistana Daniela Fechio, de 31 anos, diz que o navio saiu de Buenos Aires às 18h30 de ontem (quarta-feira) rumo a Punta del Este, no Uruguai.
"Percebemos que estávamos encalhados por volta de 20h, mas nenhuma informação foi dada até as 23h. Foi neste momento, durante um show de tango, que a sra. Thais Sanchez (diretora do cruzeiro) nos disse que devido ao tempo ruim não tínhamos autorização para navegar e que em no máximo 90 minutos sairíamos", descreve Fechio.
Ela conta ainda que não dormiu durante a noite por causa da inclinação do navio e do barulho. Na manhã de hoje (quinta-feira), houve um novo comunicado da sra. Sanchez. "Ela anunciou pelo interfone aos passageiros que devido ao forte vento e correntes marítimas a parte dianteira do navio está encalhada na lama, mas que isto não representa perigo aos passageiros."
Fechio reclama, em seu e-mail, da falta de informações. "Quase 12 horas depois de encalharmos a primeira manifestação era de notícias velhas. E nenhum plano de ação foi divulgado. Estamos em clima de especulação. Ninguém sabe como sairemos daqui. Estamos todos bem, há comida, água, música, TV, mas estamos sem informação."
Outro lado
O assessor de imprensa da CVC, Paulo Figueiredo, disse que o navio encalhou "porque bateu uma rajada de vento muito forte que o desviou da rota -e fez o Sky Wonder parar num banco de lama".
Ele diz que houve tentativas de retirar o navio do atoleiro, mas "sem sucesso". Está prevista a chegada de dois outros rebocadores para a tarde de hoje no local para novas tentativas de desencalhe, aproveitando a maré alta no rio da Prata.
Figueiredo ressaltou que, apesar do encalhe, os passageiros continuam utilizando todas as dependências do navio e gozando do conforto oferecido pelo Sky Wonder.
