Brinquedos da moda devem ser usados com moderação, dizem especialistas

Skatênis já está nos pés das crianças desde 2006
Skatênis já está nos pés das crianças desde 2006

Para saber melhor os cuidados a serem tomados com algumas brincadeiras da moda, o G1 ouviu especialistas sobre três brinquedos. Dois deles vêm fazendo a cabeça da garotada desde 2006 e podem ser considerados "hits" desse verão: o tênis com rodinha ou "skatênis", e o "skip it", um brinquedo de pular corda só com os pés. O terceiro ainda não virou moda, mas é para quem tem paixão por velocidade e dinheiro no bolso: o skate motorizado.

Tênis e patins

O tênis com rodinha entrou no mercado brasileiro em abril de 2006. A primeira empresa a fabricá-lo no Brasil desenvolveu um produto similar ao que existe nos Estados Unidos, onde é usado principalmente por adolescentes. Só em 2006, foram vendidos cerca de 160 mil pares, o dobro do esperado pela fabricante.

Antes de ser comercializado, o tênis com rodinha passou pela análise do ortopedista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Egon Henning, que aprovou o produto. “Ele ajuda a criança no desenvolvimento motor e favorece os reflexos de equilíbrio” diz. Mas o ortopedista ressalta que o skatênis deve ser usado com parcimônia. “O uso deve ser controlado, não se pode usar o dia inteiro”, aponta

A fisioterapeuta da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Renata di Grazia concorda com Henning. Ela conta que já atendeu um menino que sentiu dores pelo uso exagerado do skatênis. “Se a criança anda só um pouquinho com a rodinha no tênis, não tem tanto problema. Mas se ela andar o dia inteiro com aquilo, pode ter uma esporão de calcanho (deformidade no osso do calcanhar)”, explica.

A fisioterapeuta aponta ainda como conseqüências do uso em excesso do brinquedo o encurtamento de músculos, dores e alterações posturais, como a hiperlordose (aumento da curvatura da coluna lombar) e a escoliose (quando a coluna faz um "s" ou "c"). “Mas essas demoram muito. Só acontece se a criança ficar o dia inteiro usando”, aponta.

Segundo Renata, o tratamento para esses problemas é feito com fisioterapia, hidroterapia, e Reabilitação Postural Global (RPG).

Pulos

Se o uso exagerado do tênis com rodinha pode causar alterações posturais, a brincadeira com o skip it tem o efeito contrário. De acordo com o pediatra e geneticista Zan Mustacchi, este brinquedo “favorece a postura porque exige equilíbrio muito bem organizado.”

Mas o pediatra alerta que nem toda criança pode vestir a argola e começar a pular. “Este brinquedo exige equilíbrio sensoriomotor céfalo-podálico simétrico e assimétrico”, diz. Em outras palavras, explica Mustacchi, o menino ou menina tem que ter bem desenvolvida a capacidade de pular em um pé só. Os portadores da síndrome de Down, por exemplo, podem ter dificuldades de usar o skip it.

Lesões com o skip it, só mesmo com as quedas. Segundo a fisioterapeuta e pesquisadora da Unicamp Daniela Saldanha Wittig, esse brinquedo não oferece riscos ortopédicos. “O skip it sobrecarrega o joelho assim como outras brincadeiras de criança”, diz.

Mas a fisioterapeuta adverte que os pais devem incentivar os pequenos a usar os dois lados do corpo ao mesmo tempo. “O melhor é praticar a alternância e não brincar sempre do mesmo lado. Se não, você cria vícios e desenvolve o músculo de um lado e do outro não”, explica.

Surfe sobre rodas

O skate motorizado existe desde a década de 70 no exterior, mas só começou a ser produzido no Brasil há dois anos. O modelo brasileiro, o "motorboard", tem desenho futurista e basicamente a mesma estrutura do produto importado: um skate "longboard" comum, de cerca de 40 polegadas (pouco mais de um metro) com um motor acoplado por trás, acionado por um controle manual.

O motorboard atinge até 60 km/h e tem freio a disco. É movido a gasolina e tem 1,5 cavalo de potência. Por ser caro – custa em média R$ 2.400 – acaba sendo voltado a um público mais velho, embora crianças possam brincar sem problemas.

Desde que foi lançado, em 2004, segundo o empresário Leone Creazzo, que desenvolveu o produto no país, foram vendidos apenas 100 motorboards. Por causa do público restrito, o skate motorizado ainda é pouco conhecido no Brasil. Uma análise de especialistas, no entanto, é possível se considerarmos que esse brinquedo se assemelha muito ao surfe.

Para o ortopedista Antônio Egídio de Carvalho Jr., da Universidade de São Paulo (USP), o problema deste brinquedo não está nos movimentos que se faz em cima da prancha. “O prejuízo é que a pessoa deixa de andar. Qualquer coisa que evite a marcha é antibiológico”, diz.

Mas o ortopedista afirma que esse tipo de exercício físico tem mais efeitos positivos que negativos. “O desenvolvimento muscular é favorecido e percepção do corpo no espaço também. Os surfistas, por exemplo, conseguem perceber que pequenos movimentos no dedo do pé alteram a progressão da prancha, e desenvolvem um alto grau de percepção”, afirma.

O ortopedista faz questão de ressaltar. “É muito melhor o equilíbrio feito em brinquedos como patinete, porque você faz o esforço da impulsão, desenvolve a musculatura e o equilíbrio. A motorização disso aí é um exercício da preguiça”, pontua.

Fonte: G1

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