O instinto de proteção materna superou os limites da sapateira Maria Jerônima Campos, 36, ontem à tarde. Ela evitou uma tragédia ao pular, mesmo sem saber nadar, em um poço de um prédio abandonado na Avenida Major Nicácio, no Bairro São José, e resgatar um de seus três filhos, de 7 anos, que havia caído no local e se afogava. O local tem dez metros de profundidade.
Maria enchia alguns vasilhames em uma bica d’água existente no local devido à falta de abastecimento em Franca quando Gabriel Marcos Campos, que brincava com seu gêmeo, Daniel Marcos, e o outro irmão, Pedro Henrique, escorregou e caiu dentro do poço, que na verdade era para ser o estacionamento de um prédio. As crianças tentavam pescar pequenos peixes existentes no "piscinão", colocados ali para evitar o mosquito da dengue.
Daniel Marcos foi quem gritou à mãe. "Ela nem acreditou na hora, mas quando se virou pulou lá dentro", contou Daniel. Nesse momento, pelo menos mais três pessoas estavam na bica.
Além da sujeira e da profundidade, no poço há barras de ferros enferrujadas. Todas as dificuldades, contudo, não impediram Maria de pular. "Tinha que pular, era o único jeito de salvar meu filho. Aquilo está horrível".
Após agarrar o garoto pela cintura, ela tentava se segurar, mas os ferros retorcidos estavam escorregadios. "Ela ficava na superfície por um tempo, depois afundava", lembrou o motorista do Comércio, Wilson Batista de Moura, que estava no local antes de acontecer o acidente, acompanhando o repórter-fotográfico Tiago Brandão, que fazia fotos da bica.
Wilson e mais um homem que aguardava para levar água ajudaram a retirar Gabriel e a mãe do poço. "Eu pedia para ela soltar o filho porque eu o segurava, mas ela parece que não acreditava e permanecia agarrada ao garoto, mesmo afundando", afirmou o motorista.
Depois de resgatado, Gabriel chegou a desmaiar. Levado pela ambulância da Defesa Civil ao Pronto-Socorro Infantil, o garoto foi submetido a um raio-x, mas não foi constatada água nos pulmões. O médico prescreveu apenas antibiótico para evitar infecções.
"Será que a gente só se afoga ou morre se cair lá dentro? Eu não gosto de morrer", disse Gabriel, sentado no colo da mãe. Ele sofreu arranhões no rosto e no pescoço devido às barras de ferro, mas passa bem. A Defesa Civil interditou a construção, inacabada há anos.