O quinto suspeito da morte de João Hélio Fernandes se entregou na manhã deste domingo, de acordo com a rádio CBN. João, de 6 anos, morreu ao ser arrastado do lado de fora do carro, preso pelo cinto de segurança, por sete quilômetros, durante o assalto ao automóvel dirigido por sua mãe, na noite de quarta-feira.
O delegado Hércules Nascimento, da 30ªDP (Marechal Hermes) acredita que o quinto suspeito preso, Carlos Eduardo Toledo Lima, seja o chefe da quadrilha.
A mãe de João Hélio, Rosa Fernandes, fez ontem no Jornal Nacional, da TV Globo, um apelo emocionado às autoridades para que "olhem João como filho" e defendeu o aumento do prazo de internação de adolescentes infratores. "Tem que rever a legislação", pediu. "O Rio de Janeiro é um caso específico. Estados mais violentos têm de ter legislação específica", disse.
Quatro já estão presos
Outro suspeito de ter participado do assalto, Tiago Abreu Mattos, de 19 anos, confessou seu envolvimento na morte do garoto, mas alegou ter sido coagido pelos companheiros a praticar o crime. As declarações foram dadas durante depoimento neste sábado, de acordo com a polícia. Tiago foi preso pela Polícia Militar do Rio de Janeiro no fim da noite desta sexta-feira.
Tiago confessou ter dirigido o carro que levou os assaltantes até o local do crime. Segundo informações da 30° DP, em Marechal Hermes, havia uma negociação acertada para a prisão de Tiago, mas ele não chegou a se entregar. O suspeito havia sido detido na última quinta-feira, mas foi liberado por falta de provas.
Além de Tiago, Carlos Roberto, o menor E., de 16 anos, irmão de Carlos Eduardo, e Diego Nascimento Silva, de 18 anos, que entregou os demais acusados, estão presos. De acordo com a 30ª DP, uma testemunha do caso afirmou, na sexta-feira, que Diego teria dito que o menino era um "boneco de Judas".
Mudança no depoimento
Segundo o delegado, que já fez o pedido de prisão preventiva dos dois suspeitos, os depoimentos de Diego Nascimento da Silva, que teria confessado estar dirigindo o carro mas mudou a versão nesta sexta, e de uma testemunha levantaram a possibilidade que houvesse mais envolvidos.
Em seu primeiro depoimento, Diego disse que era ele quem dirigia o Corsa. Hoje, afirmou que Carlos Eduardo arrancou com o carro roubado, enquanto ele estava no banco do carona e o menor E., responsável por abordar as vítimas, estava no banco de trás. Tiago estava no táxi do pai, um Vectra, usado pela quadrilha para chegar em Cascadura, local do crime. De acordo com um policial militar, Carlos Roberto confessou que também estava no táxi.
Mais cedo, o delegado descartou que Diego e o outro acusado, menor de idade, estivessem drogados no momento do crime e afirmou que trata-se de pessoas "frias e calculistas". Na quinta-feira, ele havia dito que os dois provavelmente estariam sob efeitos de drogas para cometer um crime como o que matou o garoto.
O acusado Diego Nascimento Silva, 18 anos, admitiu na quinta-feira para alguns repórteres que começou a fumar maconha no início do ano passado, mas negou todo o tempo que estivesse drogado na noite do crime. O delegado descartou também que os acusados não soubessem que a criança estava presa ao carro.
O caso
João Hélio morreu na noite de quarta-feira, por volta das 21h, quando os dois assaltantes abordaram o carro onde estava sua mãe, Rosa Cristina, 41, e sua irmã Aline, 13 anos.
Os assaltantes mandaram todos saírem do carro, mas quando Rosa foi retirar o garoto do banco de trás, o cinto de segurança o prendeu. João Hélio chegou a descer, mas os assaltantes arrancaram com o carro. Com o movimento, a porta traseira do veículo se fechou, fazendo com que o garoto ficasse preso pelo abdome. O corpo de João foi arrastado por cerca de sete quilômetros. Os bandidos abandonaram o carro com o corpo do garoto em uma rua sem saída.
Manifestações
Centenas de pessoas se reuniram na noite desta sexta-feira, em uma manifestação contra a violência, na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro. Vestidos de preto, os manifestantes seguravam velas acendidas por duas crianças e carregavam cartazes de protesto com palavras como "Medo", "Corrupção" e "Impunidade". Um dos cartazes mencionava a morte do garoto: "João, vida interrompida aos seis anos". O ato, batizado de Luto pelo Rio, foi realizado em silêncio como expressão de indignação e tristeza pelos últimos casos de crimes violentos ocorridos na cidade.