Telespectadora entra no ar e dá sermão em bispo da Record

Uma telespectadora ligou para o "Fala Que Eu Te Escuto" e passou um sermão público no bispo Clodomir Santos, no programa exibido pela Record na madrugada deste domingo (28). Identificada como uma professora de São Paulo, ela acusou o apresentador de promover discriminação religiosa na TV ao retratar rituais do candomblé. Irritado com a intervenção, o bispo chegou a sugerir à telespectadora que mudasse de canal, já que estava tão incomodada com a atração.

O programa evangélico discutia o caso da atriz Suzana Vieira, cujo marido foi preso após agredir uma garota de programa e depredar um motel. O bispo convocou a participação do público por telefone, perguntando se uma "macumba" teria provocado a crise no casamento da atriz da emissora da família Marinho.

Ao chamar a ligação da telespectadora, o bispo aparentou surpresa com os questionamentos da professora, que tentou manter o tom de respeito e um discurso articulado. Ela disse ser uma estudiosa dos temas ligados ao candomblé e que se sentia muito "ofendida" com a forma "negativa" como a Igreja Universal do Reino de Deus descrevia o ritual afro.

Segundo ela, o intuito era "satanizar" e "perseguir" os seguidores do candomblé, confundindo o culto dos orixás com magia negra. O apresentador rebateu dizendo que livros sobre o assunto também abordam aspectos negativos da crença como "encostos" e "trabalhos" feitos para o mal.

"Foi a Globo que publicou"

Sobre o caso de Suzana Vieira, o bispo disse que o "Fala Que Eu Te Escuto" estava apenas repercutindo uma notícia publicada por um site da própria Globo. O programa evangélico exibiu a imagem de uma tela de micro com a notícia intitulada "Mãe de Marcelo Silva, marido de Suzana Vieira, revela que fizeram macumba contra o filho", publicada pelo site "Ego", que cobre o mundo das celebridades, principalmente do elenco contratado da Globo.

"Foi um site da Globo que publicou a notícia", retrucou o bispo da Record, tentando justificar a relevância do tema "macumba" e do drama pessoal de uma figura pública.

A telespectadora sugeriu que a Record parasse de depreciar outras religiões, pois uma emissora de TV é uma concessão pública. O bispo Clodomir respondeu que seu programa não censura temas –apenas aborda assuntos da atualidade, como o caso da prisão do marido da atriz.

Ele também citou o "direito constitucional" de discutir assuntos ligados a outras religiões, como qualquer outro canal. A Globo, por exemplo, exibe o programa "Santa Missa", nas manhãs (6h) de domingo, e abriga orações e cantorias de padre Marcelo Rossi. Clodomir disse ainda que só mudaria seu programa por ordem do bispo Edir Macedo, fundador da Universal.

Negros e bispa Sônia

Durante sua ligação, a professora lembrou ao bispo o caso dos fundadores da Igreja Renascer em Cristo –Estevam Hernandes Filho e Sônia Haddad Moraes Hernandes. O casal foi preso em Miami (EUA) sob acusação de portar dólares não-declarados, inclusive dentro de uma Bíblia. O apresentador rebateu dizendo que o assunto já foi abordado pelo "Fala Que Eu Te Escuto".

Ele disse também à professora que a Igreja Universal não discrimina negros, como se acusa, pois o contingente de fiéis "afrodescendentes" é relevante. O bispo também argumentou que os evangélicos sofrem bastante preconceito na mídia e na sociedade, principalmente as crianças nas escolas.

A telespectadora elevou o tom da crítica, citando que o programa tinha exibido imagens falsas e montadas sobre o culto do candomblé. O bispo negou manipulação das imagens. Disse ser responsável pela direção do "Fala Que Eu Te Escuto" e que a deixaria falar no ar, sem cortes na transmissão. No final do programa, o bispo tentou contemporizar o mal-estar criado com o bate-boca, deu sorrisos e convidou a professora a conhecê-lo pessoalmente e a receber a fita original das imagens.

Fonte: Folha On-line

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