Câmara dobra pena a quem envolver menor

Projeto aprovado ainda agrava pena para outros crimes com ligação de menor

Senado já havia aprovado lei que responsabiliza adulto por indução de menor no crime
Senado já havia aprovado lei que responsabiliza adulto por indução de menor no crime

A Câmara dos Deputados aprovou, na última quinta-feira, um projeto de lei que dobra a pena dos condenados por formação de quadrilha na hipótese de envolvimento de menor no crime. Hoje, a pena para formação de quadrilha varia de um a três anos. Com o projeto aprovado, a pena subirá de dois a seis anos em caso de participação de menor de idade. A proposta, aprovada simbolicamente e por unanimidade, agora segue ao Senado.

No projeto, foi incluído ainda o agravante ao adulto que cometer outro tipo de crime, que não seja formação de quadrilha, com o envolvimento de menor. A proposta não estabelece pena, e deixa essa responsabilidade com o juiz.

Um pouco mais cedo, foi a vez do Senado aumentar o rigor em cima de quem utiliza menor na prática do crime. A Comissão de Direitos Humanos da Casa aprovou projeto parecido com o da Câmara: responsabiliza o adulto envolvido em crime com a participação de menor de idade. O projeto dos senadores determina a aplicação da pena de quatro a 15 anos de prisão e multa a quem "utilizar, instigar, ou auxiliar criança ou adolescente" na prática do crime.

O projeto, de autoria do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), é terminativo nesta comissão e não precisará ir a plenário. Seguirá direto para a Câmara. A proposta ainda aumenta essa pena em um terço se, neste crime, o menor sofrer lesão corporal. E a pena dobra em caso de morte do menor.

Projetos aprovados

Na noite de quarta 14, os deputados aprovaram dois projetos importantes: um que aumenta o tempo mínimo de prisão para que um condenado por crime hediondo possa ter direito ao regime semi-aberto e outro que pune o detento que usar telefone celular em presídio. Os dois também precisam ir ao Senado.

Essas votações são uma resposta da Câmara após o retorno da discussão sobre segurança pública por conta da morte do menino João Hélio, de 6 anos, no Rio de Janeiro, que foi arrastado por 7 km após um assalto na semana passada. Os demais projetos sobre segurança pública que estão na pauta da Casa serão apreciados na semana seguinte ao carnaval.

Progressão da pena

A proposta, aprovada simbolicamente e por unanimidade, estabelece que o preso condenado por crime hediondo precisará cumprir dois quintos da pena para obter esse benefício, e não mais um sexto, como ocorre atualmente.

A proposta original era de obrigar o preso a passar um terço da pena na cadeia antes de receber esse direito, mas os deputados fizeram um acordo em plenário, decidiram ser mais rigorosos e subiram o prazo para dois quintos.

O projeto aprovado diz ainda que o preso reincidente por crime hediondo terá que ficar três quintos da pena na prisão para ter acesso ao semi-aberto.

Hoje, por exemplo, um preso condenado a 30 anos por crime hediondo (homicídio qualificado, latrocínio, estupro, seqüestro, entre outros) poderá ganhar o regime semi-aberto ao cumprir cinco anos da pena. Com a nova lei, porém, ele terá que passar pelo menos 12 anos na prisão antes de receber o benefício. Se for reincidente, serão, no mínimo, 18 anos de detenção.

Uso de celular

Já o projeto aprovado que pune o uso de celular diz que o preso flagrado com esse tipo de telefone ou qualquer tipo de comunicação externa receberá a punição de "falta disciplinar grave" em sua ficha como detento, o que pode prejudicá-lo na obtenção de benefícios, como indultos, regime semi-aberto, entre outros. Alguns deputados tentaram incluir a possibilidade de este detento ser enquadrado no Regime Disciplinar Diferenciado, mais rigoroso nos presídios. A sugestão, porém, ficou de fora.

O projeto faz parte do "pacote de segurança" aprovado no ano passado pelos senadores na época em que uma facção criminosa realizou ataques em São Paulo. A proposta terá que voltar ao Senado porque os deputados mexeram em parte do texto, incluindo uma punição administativa ao agente penitenciário que facilitar a entrada de celulares em presídios.

Maioridade

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tem se mostrado contra a redução da maioridade penal e evitado o tema na Casa. O assunto, porém, já está sendo discutido no Senado. Na quarta, por exemplo, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa pôs o tema em discussão, mas a votação foi adiada depois de uma articulação do governo.

Seguindo a posição do Palácio do Planalto, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) pediu vista (tempo para analisar) dessas propostas, o que adiou a votação para o dia 28 deste mês. O presidente da CCJ, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), concedeu o prazo ao senador, mas afirmou que a votação não passará do dia 28. "Vamos discutir o assunto, mas isso será decidido no dia 28 de uma forma ou de outra", afirmou.

Ao todo, há seis emendas sobre o tema na CCJ. O relator das propostas, o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), defendeu em seu relatório a redução da maioridade dos atuais 18 para 16 anos aos jovens envolvidos com crimes hediondos, tráfico de drogas ou tortura.

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