Uma brincadeira de crianças em uma favela de São Paulo, resultou na morte da alagoana Maria Cícera dos Santos Portela, a Cicinha, 24. No último dia de carnaval, a auxiliar de cozinha assistia de casa à guerra de ovos entre as crianças, até que policiais ficaram irritados quando os ovos atingiram veículos da Polícia Militar que circulavam pela cidade.
Durante a confusão, um dos policiais atirou para o alto, e uma bala perdida acertou a cabeça da alagoana. Cicinha foi levada ainda com vida para o hospital, mas não resistiu ao ferimento.
"Eles já chegaram atirando. Minha filha saiu da confusão, mas o policial atirou para cima, onde ela estava. Depois rodou a arma no dedo. Ele quis acertá-la e ainda se recusou a socorrê-la", afirma Maria Aparecida dos Santos, 41, mãe da vítima.
Segundo ela, o PM que matou sua filha é o soldado José Álvaro Pereira da Silva, 38, da 5ª Companhia do 16º Batalhão da Polícia Militar.
Fiança
Após ser reconhecido por testemunhas, o PM foi preso em flagrante e indiciado no por homicídio culposo (sem intenção de matar).
Em sua defesa, Silva admitiu à Polícia Civil ter feito dois disparos –moradores afirmam ter ouvido cinco–, mas negou que tenham atingido alguém. Mesmo assim, pagou fiança de R$ 300 e foi solto.
Revolta
Após o episódio, a comunidade da favela protestou com cartazes e faixas na frente do 16º Batalhão da Polícia Militar, pedindo justiça. O mesmo ocorreu ontem no enterro da vítima, em Santo Amaro (zona sul). Os moradores fretaram dois ônibus para o velório. No caixão, colocaram uma faixa com a frase: "Cicinha, sempre vamos te amar".
Maria Cícera estava em São Paulo havia cinco anos. O pai mora em Pernambuco.
Filha única e solteira, dividia com a tia um sobrado numa rua sem asfalto e com esgoto a céu aberto. Era auxiliar de cozinha na Faculdade de Educação da USP, no Butantã.
"Eu era a mãe e o pai dela", disse Maria Aparecida. "Ela era uma pessoa sorridente, alegre e bastante prestativa."
Com Folha de São Paulo