O Irã expandiu o programa de enriquecimento de urânio em vez de seguir as recomendações dadas pelo Conselho de Segurança da ONU, que pedira a suspensão das atividades, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira pela agência nuclear da ONU.
"O Irã não suspendeu suas atividades relacionadas com o enriquecimento de urânio", disse a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), citada pelo jornal "The New York Times".
A conclusão é importante porque pode servir de base para a imposição de novas sanções a Teerã, devido à sua intransigência nas negociações a respeito de seu programa nuclear.
No relatório, escrito pelo diretor-geral da AIEA, Mohamed ElBaradei, a agência afirma ainda que o Irã continua a trabalhar na construção de um reator e de uma plataforma nuclear que utilizam água pesada –também desafiando exigências feitas pelo Conselho de Segurança.
Tanto o urânio quanto o plutônio produzidos por reatores de água pesada podem produzir material utilizado em armas nucleares. O Irã nega possuir tal intenção, dizendo que os reatores são necessários para a produção de energia elétrica e materiais médicos.
O documento de seis páginas diz ainda que as equipes da agência foram "impossibilitadas de progredir em seus esforços de verificar o andamento do programa nuclear iraniano" devido à "falta de cooperação" do governo de Teerã.
A acusação aponta outra violação a exigências do Conselho de Segurança da ONU, que em 23 de dezembro pediu que o Irã garantisse "todo o acesso e a cooperação necessários para que a agência verifique" os procedimentos nas instalações nucleares dentro de 60 dias.
O documento, enviado ao Conselho de Segurança e aos 35 países-membros da ONU– pode acirrar as tensões entre o Irã e os demais países ocidentais.
Em Teerã, o vice-chefe da Organização de Energia Atômica Iraniana, Mohammed Saeedi, afirmou que o "Irã considera [a exigência da AIEA] para a suspensão como uma violação de seus direitos previstos no Tratado de Não-Proliferação Nuclear e nas leis internacionais".
"É por isso que o Irã não poderia ter respondido de forma positiva à resolução 1737 do Conselho de Segurança da ONU, que pede a suspensão do enriquecimento de urânio,” afirmou Saeedi, de acordo com a agência oficial iraniana de notícias.
O porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, afirmou que a recusa iraniana é uma "oportunidade perdida" para o governo e o povo do Irã. Casey disse acreditar que o Conselho de Segurança deve aprovar sanções adicionais contra o país, sem fornecer detalhes.
Antes da divulgação do relatório, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que os EUA e seus aliados devem usar o CS e "outros meios disponíveis" para trazer Teerã de volta às negociações a respeito de seu programa nuclear.
Preocupação
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou estar "muito preocupado" com o fato de o governo iraniano não ter respeitado o prazo [que expirou ontem] dado pelo CS da ONU.
"Eu peço que o governo iraniano respeite totalmente as recomendações do Conselho de Segurança o mais rápido possível", disse Moon em Viena, dizendo que as atividades nucleares do Irã têm "grandes implicações" para a paz e a segurança, assim como para a "proliferação de armas de destruição em massa".
Além das sanções, o governo americano vem aumentando a pressão sobre o Irã em todas as frentes –entre elas, por meio da detenção de agentes iranianos no Iraque e pela persuasão de governos europeus e instituições financeiras para que cortem os laços com o país persa.
O Conselho de Segurança exige a suspensão imediata e incondicional do enriquecimento de urânio, que abriria espaço para negociações a respeito de um pacote de vantagens econômicas para o Irã.
O governo iraniano, no entanto, recusa-se a abandonar as atividades nucleares como uma pré-condição para as negociações.
Fonte: Folha On-line