Os moradores de Feira Grande viveram, por várias décadas, em silêncio com a Doença de Huntington. Pouco conhecida pela maioria da população, a enfermidade atinge, normalmente, cerca de 10 pessoas por cem mil habitantes. No entanto, em Feira Grande, já foram diagnosticados pouco mais de 25 doentes, numa população de 22 mil habitantes.
A doença, também conhecida por Coréia Hereditária, é transmitida de pai ou mãe para os filhos, que possuem 50% de chances de herdar o mal, que ainda não tem cura. Entre os sintomas, estão movimentos anormais, declínio intelectual, distúrbios de comportamento e uma progressiva perda da capacidade funcional.
“É difícil de descrever, é como se as pessoas estivessem dançando. A doença se assemelha muito com o mal de Parkinson, por ser degenerativa e provocar a falta de controle motor”, explicou a odontóloga e pesquisadora Aparecida Alencar.
Moradora de Feira Grande, Aparecida viu amigos e conhecidos na fase inicial da doença e pessoas que morreram em decorrência dos problemas causados pelo mal. “A doença atinge a maioria das pessoas com quase 50 anos, mas já tem um caso de uma mulher que teve os primeiros sintomas com 34 anos. Há cerca de dois meses, uma pessoa com a doença morreu no município”, afirmou.
Pesquisa
Depois de ter estudado Odontologia, Aparecida Alencar começou a trabalhar no município pelo Programa de Saúde da Família, quando resolveu iniciar voluntariamente um estudo sobre a enfermidade que atingia a população de Feira Grande.
“No começo, ninguém tinha o diagnóstico, os moradores não sabiam direito o que causava a doença. Agora, sabemos que ela é hereditária e incurável, mas estamos procurando meios para melhorar a qualidade de vida das pessoas com a doença”, ressaltou.
Em casa, Aparecida guarda um heredrograma com um mapeamento das famílias e dos integrantes que apresentaram os sintomas de Huntington. No município, o índice da doença é muito alto, o que pode ser explicado com os casamentos entre primos e a transmissão hereditária da enfermidade, entre outros fatores.
Depois da pesquisa, a odontóloga entrou em contato com os integrantes da Associação Brasil Huntington, uma organização criada para apoiar e orientar as famílias que têm portadores da doença.
Neste sábado, dois integrantes da associação passam o dia em Feira Grande, visitando famílias pela manhã e, à tarde, ministrarão palestras sobre o mal de Huntington.
“Eles estão fazendo um projeto para enviar para o Ministério da Saúde, pedindo equipes multidisciplinares para tratar os doentes de Huntington em todo o Brasil. Como souberam da alta incidência da doença em Feira Grande, eles querem incluir o município no projeto”, disse Aparecida, contente com o progresso.
Em Feira Grande, ainda não há centros médicos especializados para tratar doentes de Huntington e a equipe multidisciplinar seria formada por fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, neurologista, entre outros profissionais, para que o enfermo possa ter melhor qualidade de vida para enfrentar a doença.