Comer chocolates em pequenas quantidades diárias, além de não provocar espinhas, pode trazer benefícios, como o combate ao envelhecimento das células e a prevenção de doenças cardíacas. Mas, para quem as pequenas quantidades não bastam, principalmente na Páscoa, especialistas ensinam como diminuir a culpa e poupar a saúde.
Algumas compensações devem ser feitas por quem abusa, conforme explica a nutricionista e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, Lígia Martini. “Devemos comer mais frutas e vegetais, evitar frituras, alimentos gordurosos e açúcar. Além disso, devemos aumentar a atividade física, fazer mais caminhadas, nadar, jogar bola, andar de bicicleta”, aconselha.
Andréa Pólo Galante, presidente da Associação Brasileira de Nutrição e professora do Centro Universitário São Camilo, também não condena o consumo do doce, desde que moderado. “Se for na quantidade adequada para o indivíduo, o chocolate pode sim fazer parte da alimentação sem causar danos. Ele tem antioxidantes e energia, que precisamos também. Mas sempre devemos buscar um equilíbrio. Nenhum alimento em excesso vai fazer bem à saúde”, afirma.
“O problema é quando se substitui o chocolate por outros grupos de alimentos. Se a pessoa está de regime, por exemplo, e quer comer chocolate, ela às vezes deixa de almoçar para consumir apenas as calorias do chocolate. É aí que há prejuízos para o organismo”, diz Andréa.
“Comer chocolate está mais relacionado ao prazer do que a um efeito benéfico de qualquer nutriente. Quem faz atividade física regular, não está acima do peso e não tem problemas de saúde pode comer uma quantidade pequena quando tiver vontade”, diz Lígia.
Acne
Já há algum tempo que a ciência contraria os avisos de mães e avós e afirma que “chocolate não dá espinha”, como diz a médica e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Clarisse Zaitz. “Não existe nenhum estudo que comprove que chocolate agrava o quadro da acne. Há coisas que são mitos, vêm de anos e chegam na gente, e nunca se provou nada”, diz ela.
Pesquisas de duas universidades norte-americanas comprovam que qualquer dieta baseada em açúcares e gorduras – com ou sem chocolate – aumenta probabilidade de aparecerem os cravos e espinhas. “Mas é um consumo contínuo e a longo prazo”, explica a dermatologista e médica voluntária da Dermatologia da Unifesp, Érica Monteiro.
“Antigamente a gente falava que não tinha relação, mas há trabalhos que dizem que a dieta ocidental, que tem a base feita de carboidratos, como açúcares e farináceos, estimula a oleosidade da pele.”
As dermatologistas concordam, no entanto, que não é o chocolate o vilão da história, muito menos o seu consumo, ainda que além da conta, na época da Páscoa. As pesquisas feitas pela Universidade de Harvard e da Universidade Estadual do Colorado, ambas dos EUA, demonstraram que as dietas baseadas em carboidratos – presentes nas massas, pães, grãos, doces e frutas e raízes – produzem indivíduos com maior oleosidade na pele, e assim, com maior incidência de acne, em contrapartida àqueles que consomem grandes quantidades de leite e derivados.
Segundo Monteiro, uma possível explicação para os resultados da pesquisa é que os alimentos dessa classe estimulam a produção do hormônio insulina, que controla a entrada de açúcares nas células do corpo. “Eles (os alimentos) liberam uma grande quantidade de insulina, que é um hormônio que tem uma ação nas glândulas sebáceas”, responsáveis pela oleosidade da pele.
‘Neura’
Acreditar que comer ovos e bombons vai resultar inevitavelmente em uma pele feia nos dias seguintes pode piorar a situação. “O emocional tem influência sobre o corpo. A pessoa vai comer o chocolate e, porque acha que dá espinhas, vai ficar sugestionada. Nisso eu acredito, não está provado, mas a ‘neura’ acaba piorando o estado da pele sim”, comenta Clarisse. Ela explica que ficar ansioso com as conseqüências de um simples bombom gera estresse, que altera a produção de alguns hormônios e desencadeia a acne.
“Tem pacientes que chegam ao consultório dizendo que comeram chocolate e, um ou dois dias depois, ficaram com espinhas. Consideramos isso casos individuais. A recomendação nesse sentido é ‘se chocolate te faz mal, não coma chocolate’, mas não está provado que é ele que causa ou piora a acne”, afirma Clarisse Zaitz. “Não costumamos pedir para que um paciente com acne deixe de comer chocolate”, explica Érica Monteiro.
Além da alimentação com base em carboidratos, há outros fatores que podem desencadear o aparecimento de cravos e espinhas, como fatores genéticos, estresse, problemas hormonais e passar cremes oleosos sobre a pele, segundo Clarisse.
Antienvelhecimento
Uma boa desculpa dada pelos amantes do chocolate para continuarem a comer suas barrinhas todos os dias é a de que o doce que vem do cacau é rico em flavonóides, substâncias que agem como antioxidantes e combatem o envelhecimento das células. Depois do final do ano passado, a desculpa aumentou de tamanho, quando descobriu-se que essas substâncias presentes no chocolate podem prevenir o enfarte.
É o cacau que contém flavonóides (por isso, quanto mais amargo o chocolate, mais benefícios ele traz), que são compostos formados em alguns vegetais, como o chá verde e a soja, por exemplo. “Esses compostos podem trazer benefícios à saúde, como combater o envelhecimento das células e prevenir doenças cardíacas, uma vez que modulam a ação de hormônios e outras substâncias importantes no metabolismo”, explica Lígia Martini.
No entanto, para ela, não é a partir do chocolate que se deve obter os flavonóides. “Os alimentos mais recomendados são as frutas e vegetais”. Para ela, os benefícios não compensam os aspectos ruins. “O chocolate tem bastante gordura e açúcar, então não podemos recomendar comer uma quantidade ‘x’ de chocolate para ter os benefícios dos flavonóides”, explica.