ROMA (Reuters) – O papa Bento 16 comandou uma procissão ao redor das ruínas históricas do Coliseu, em Roma, na Sexta-Feira Santa, quando ouviu algumas reflexões, entre as quais uma que lamentava a violência e a marginalização de que eram vítimas mulheres do mundo todo.
O pontífice, 79 anos, comandou a tradicional procissão da Via Crucis, que lembra o sofrimento e a morte de Cristo. A celebração é uma das principais realizadas antes da Páscoa — o ponto alto do ano cristão.
Sob a noite de Roma, Bento 16 ficou diante de uma silenciosa multidão formada por dezenas de milhares de pessoas, muitas delas carregando uma vela na mão.
As 14 reflexões, escritas por uma autoridade da Igreja Católica e lidas em voz alta, traçaram um panorama sombrio do mundo, pintado como um lugar de abusos e negligência.
Um dos textos descrevia com detalhes dolorosos as ofensas praticadas contra mulheres. "Imaginemos portanto todas as mulheres que foram humilhadas e estupradas, marginalizadas e submetidas a práticas tribais indecentes", afirmou uma das reflexões.
O texto falava ainda em "mulheres apreensivas, abandonadas para criarem sozinhas seus filhos, mães judias e palestinas, e aquelas de todos os países em guerra, viúvas e mulheres idosas esquecidas por seus filhos."
O papa carregou uma cruz de madeira durante parte do percurso ao redor do Coliseu, em uma cerimônia transmitida para canais de TV de 41 países.
A procissão noturna foi o segundo evento da Sexta-Feira Santa a contar com a participação de Bento 16. Nesse dia, os cristãos lembram-se da crucificação e da morte de Cristo. "Percebemos não apenas a paixão de Jesus. Percebemos todo esse sofrimento existente no mundo", afirmou o papa. "Essa é a intenção mais profunda das orações da Via Crucis — abrir nossos corações."
Horas antes, o líder da Igreja Católica ouviu um sermão centrado exclusivamente nas mulheres, durante o qual um orador do Vaticano pediu a elas que não tentassem se comportar como homens a fim de conquistarem seu espaço na sociedade.
O padre Raniero Cantalamessa, cujo título oficial é de "Orador do Lar Papal", também manifestou esperanças de que o mundo embarque em uma nova "era da mulher, do coração e da compaixão."
As reflexões da Via Crucis lamentaram ainda a tortura de prisioneiros em "milhares de formas sádicas e perversas, na escuridão de tantas celas de prisão". Uma delas citou um texto de Etty Hillesum, uma holandesa que morreu no campo de concentração nazista de Auschwitz em 1943. O texto citado afirmava: "Nós podemos sofrer, mas não devemos sucumbir."
O papa, nascido na Alemanha e que visitou Auschwitz no ano passado, comanda os 1,1 bilhão de fiéis da Igreja Católica na segunda Páscoa de seu pontificado.
Na noite deste sábado, Bento 16 celebrará a missa da Véspera de Páscoa. No domingo, pronunciará a bênção e a mensagem do "Urbi et Orbi" (para a cidade e para o mundo).