Ave César ou será ave Renan?

Raul Rodrigues
Raul Rodrigues

No período do Império Romano, no apogeu dos Césares, o mundo conheceu parte de toda a tirania dos poderosos e também as peripécias amorosas dos imperadores e seus asseclas. Era a época da criação do Senado, a mais próxima e poderosa instituição imperial.

Os senhores senadores além de desfrutarem das benesses ostentavam com acinte o poder que lhes era conferido. Seguranças pessoais, mansões para residirem, trajes imaculadamente brancos, simbolizando a pureza do poder, anéis com brasões que abriam portas e portões do poder ou dos poderosos, verdadeiros escribas entre os povos. E como se não lhes bastassem todos esses benefícios do cargo, ainda a bem da soberba, tinham em locais seguros as suas amantes. Mulheres belíssimas que lhes satisfaziam os prazeres carnais completando o afago ao ego diante dos pobres mortais.

Roma suportava tamanha carga de ônus, era o centro do mundo, com impostos recebidos ao olho da lei ou da espada. Já o Brasil, país de pobreza continental, não suportaria tamanha carga tributária saindo dos cofres públicos, a não ser que, através do poder do cargo o senador adquira “presentes” de amigos do poder que mantenham aos olhos vedados do povo uma similaridade entre tempos tão distantes. Desta forma, é fácil ter amantes, ter filhos escondidos, e manter imune pelo menos por algum tempo a imagem de homem probo e político exemplar.

Nos tempos de Roma, a imprensa era oficial, não existia outra forma de se denunciar as peripécias dos governantes que não fossem pela ação mambembe nas feiras livres. Os todos poderosos eram prepotentes e arbitrários, mas viviam sempre com a lei que lhes favoreciam o seu lado. Transgredir eles transgrediam, entretanto o senado não respaldava ações que maculassem a entidade de tanto poder e que, por isso, encontrava-se tão próximo do Imperador, podendo trazer-lhes muitos problemas com a nação romana.
A corrupção não é um mal dos nossos tempos, nem, tampouco, um mal brasileiro, porém, quando descoberta deve ser apurada e punida exemplarmente para não se tornar rotina, principalmente porque ela acontece no meio dos mais ricos ou mais poderosos, o que aos olhos da lei não deve fazer diferença, pois corrupção é um termo mais leve para o que se chama de roubo, quando se trata de pessoas comuns. Somos alagoanos e, como tal, não merecemos uma nova pornochanchada envolvendo a maior expressão política do momento do nosso quadro político.

Collor foi punido sem direito pleno da sua defesa após 15 longos de exílio da política, retornou e mostrou-nos falhas do sistema quanto ao seu impeachment e isso de nada adiantou quanto ao passado. Agora a situação é de novo escândalo, porém, ainda, não se pode levar a conclusão alguma, até porque, quando se trata de figurões do porte do Presidente do Senado da República normalmente as provas desaparecem ou são julgadas insuficientes ou improcedentes. Situação antagônica do cidadão comum que muitas das vezes primeiro é preso para depois se verificar o erro de quem o prendeu.

É uma pena vivermos estas instabilidades da moral e da dignidade dos nossos políticos por conta das conseqüências e, também, pela generalização que se faz, o que não é justo se comparar esse Renan com Pedro Simon, José Dirceu com Cristóvão Buarque, José Genuíno com Jéferson Peres. Na realidade seria uma grande injustiça em não separarmos o joio do trigo.

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