O Cineclube Antes Arte do que Tarde traz um debate sobre a sociedade de consumo, com o longa-metragem 1,99 – Um Supermercado que Vende Palavras, nesta segunda-feira no Teatro Jofre Soares (Sesc Centro) às 19h. O evento é realizado em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc) e a ONG Ideário, e faz parte do projeto de exibição de filmes nacionais, com destaque para curtas-metragens e documentários.
De acordo com o organizador da mostra Rafhael Barbosa, o longa-metragem 1,99 – Um Supermercado Que Vende Palavras, dirigido por Marcelo Masagão (de Nós Que Aqui Estamos por Vós Esperamos), é um dos filmes mais emblemáticos dos últimos anos no cinema brasileiro e marca o retorno do diretor paulistano à mostra. Masagão apareceu no cenário nacional da melhor forma possível, em 1999, com seu primeiro longa-metragem, o documentário "Nós que aqui estamos por vós esperamos", conquistando enorme simpatia do público e da crítica.
A obra questiona o porquê das pessoas gostarem tanto de ir ao supermercado e também o motivo que as levam falar tanto. Exibida pela primeira vez no Festival do Rio 2003, alcançou a segunda maior bilheteria de filmes nacionais. A produção estreou em 19 de março de 2004, em São Paulo e Rio de Janeiro.
Os personagens principais em 1,99 – Um Supermercado Que Vende Palavras são o desejo, a angústia e a compulsão por comprar. Em um supermercado, os consumidores passam o tempo enchendo seus carrinhos e não conseguem sair de lá.
Durante este período de reclusão, algumas histórias curiosas acontecem. O mundo exterior só aparece mediado por máquinas como computadores, câmeras e telefones.
Segundo o diretor, que também é coordenador do Festival do Minuto, a idéia de fazer um supermercado inteiramente branco saiu da leitura do livro No Logo, de Naomi Klein. "Neste livro ela faz uma rigorosa e surpreendente análise de como as grandes marcas têm necessidades intrínsecas de se fetichizar ao infinito para sobreviver.
O produto e a produção interessam muito pouco: mandem lá os chineses produzirem Nike trabalhando a meio dólar por hora. Nosso negócio é conectar nossas marcas e slogans fetichistas em todos os domínios da vida humana. Foi neste momento que veio a idéia de fazer um supermercado completamente branco que só venderia fetiche, ou seja, slogans, ou seja, palavras".
Para Deborah Young, em texto publicado na revista Variety, as embalagens "falam" no filme. A jornalista considera a produção "um protesto criativo contra o acéfalo consumismo moderno". Os críticos Arlindo Machado e José Carlos Avellar também registraram suas opiniões, respectivamente, nos artigos Vende-se Silêncio e Alugam-se Patins. Machado classifica a obra como "uma espécie de O Anjo Exterminador da era da globalização e do neoliberalismo".
Já Avellar, afirma que o filme "pode ser compreendido como um convite para correr em círculos e linhas sinuosas entre consumidores, estantes, carrinhos de compra, caixas automáticos, espaços de jogos, para se perguntar se um supermercado vende necessidades, vende fetiches ou vende a necessidade de fetiches.".