Na bíblica história, tantas vezes contada e recontada, Sansão, herói dos hebreus, a quem o Todo Poderoso agraciou com uma força mitológica, derrotava invariavelmente os filisteus na Palestina, imprimindo-lhes uma gama de humilhações, em razão da própria natureza desproporcional dos confrontos empreendidos, posto que apenas um homem, enfrentava sozinho cerca de cinco ou dez soldados filisteus.
Herói de uma raça, ídolo de seu povo, quando nasceu, seus pais fizeram uma promessa ao Deus de Israel: – Sansão seria consagrado a Deus, seu cabelo jamais seria cortado, não podendo, no entanto, revelar este segredo a ninguém. Todavia, Sansão sucumbiu aos encantos de uma bela mulher, no caso Dalila, a quem entregou, em momento de pura inocência, e cedendo à fraqueza humana, o segredo de sua força, o que o levaria, ao final, à sua morte.
Ao analisar a história, não há como não se surpreender com tamanha imaturidade do homem, ao confessar seu sagrado segredo, tendo em vista vários indicativos de que aquela mulher, a quem por certo nutria um amor sofrido, ante a incompatibilidade racial, há muito que tentava descobrir a origem da descomunal força que possuía aquele homem, alimentada pelo desejo de vingança que nutria pelo fato de haver sido rejeitada.
Nos dias de hoje, do mesmo modo, não há como não exercer certa comparação entre o exemplo da mencionada história bíblica, e tantos conflitos existentes entre homens e mulheres, nos quais, o Poder e o Prestígio, que detém alguns homens, sucumbem diante dos encantos e do brilho de um olhar feminino, muitas vezes de intenção duvidosa.
Vejamos, a tormenta tropical, de repercussão nacional, que desabou sobre o certo parlamentar alagoano, após a divulgação de seu envolvimento pessoal com uma jornalista que, não tardou em lançar mão de todo um aparato de marketing para auferir ganho financeiro ante a divulgação de uma história de envolvimento extraconjugal, que a própria protagonista deveria ter o interesse de preservar, seja em face do nascimento de uma filha deste relacionamento, a quem teria o dever de resguardar de qualquer exposição, seja porque, no fundo, tal relacionamento, nada mais era que uma relação adulterina.
Mas, não estou aqui para julgar nenhum dos dois. Não conheço as razões que os conduziram a tal destino. Do mesmo modo, não sou, neste espaço, julgador dos procedimentos a que fora submetido o parlamentar alagoano, não tenho conhecimento das provas eventualmente apuradas, seja da acusação seja da defesa, além de que, na hipótese em tela, não estamos diante de um processo judicial, e sim de um procedimento no qual impera o caráter subjetivo, próprio da atividade política, na qual, nem sempre o certo e o justo, corresponde ao sentido de justiça que emana da opinião popular.
Não há dúvidas de que o homem, gênero da espécie humana, é o único animal que pode ser, conscientemente, responsabilizado pelos seus atos, devendo por eles responder na medida de suas conseqüências.
O parlamentar alagoano pagou caro por seus atos, e ainda terá que responder perante seus eleitores quando submeter seu nome ao julgamento popular, no qual será julgado o que o eleitor achar mais importante, o eventual trabalho que tenha desenvolvido ou o fato de haver caído em tentação, mal que acomete, via de regra, alguns homens de meia-idade.
E não se venha alegar que a cassação teria sido a resposta merecida. No Estado Democrático de Direito é preciso aceitar o resultado dos procedimentos levados a efeito em suas respectivas instituições. Como parlamentar, foi submetido a processo próprio e julgado pelos seus pares que, entenderam não haver elementos para a pena capital, a qual, na hipótese de parlamentar, seria a cassação do mandato.
O tempo e as urnas ditarão a verdade da razão ou da opinião pública. Todavia não há como negar a perda de poder e espaço no cenário nacional que havia adquirido com tamanha competência.
Para a história fica o exemplo, mais um, desde de Sansão e Dalila, de que o Poder e o Prestígio, por maiores que sejam, podem se quedar, se o homem, detentor destes, sucumbindo à fraqueza humana, não for maior que a tentação apresentada.
Como já disse, Fernando Pessoa, o imortal poeta lusitano: “a vida passa e não fica, nada deixa, nunca regressa. … passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes”.
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