“Quase todo dia um adolescente é assassinado na periferia de Maceió”. A afirmação feita pelo coordenador em Alagoas do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, Átila Vieira Correia, traduz uma realidade que já foge ao controle de organismos oficiais e entidades especializadas na defesa dos direitos humanos na capital.
Os dados reunidos extra-oficialmente pelo coordenador, a partir de levantamentos feitos junto a ONG’s, IML e notícias divulgadas por veículos de comunicação do Estado, indicam que os crimes característicos de extermínio ocorrem com maior freqüência em bairros como Vila Brejal, Bom Parto, Clima Bom, Village Campestre e outros conjuntos periféricos da região do Tabuleiro do Martins.
As vítimas têm entre 15 e 25 anos e as mortes estão geralmente associadas ao tráfico de drogas. “Infelizmente não conseguimos quantificar o total destas mortes”, diz Átila Correia, reclamando a falta de investimentos em pesquisas e estudos qualitativos sobre a situação.
Autor do dossiê “Ruas Lavadas com Sangue”, relatório histórico sobre a violência sofrida por meninos e meninas de rua – documento que reúne relatos e uma lista com nomes e apelidos de 105 crianças e adolescentes mortos ou desaparecidos durante 12 anos em Maceió –, Átila Vieira Correia acredita que a impunidade ainda predomine como fator decisivo para estimular a prática de novos crimes.
Por acompanhar inúmeros casos de perto e saber que, a apuração destes crimes geralmente segue um curso linear na polícia, o coordenador do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua em Alagoas fez questão de documentar a violência que resulta no desaparecimento e morte de crianças e adolescentes em situação de abandono.
“Se compararmos a realidade de meninos e meninas de rua com a de jovens e adolescentes mortos na periferia, veremos um crescimento absurdo da violência nos bairros. Entretanto, embora esses crimes ocorram fora do contexto das ruas, as características de extermínio permanecem as mesmas”, diz Correia.
Armas de fogo
Entre os casos documentados no dossiê divulgado por Átila Correia, há dois anos, 40% representaram crimes com vítimas de armas de fogo. “Nos casos de desaparecimento e na maioria dos crimes onde foram utilizadas armas de fogo, as ações caracterizaram-se como sendo provenientes de grupos extermínio”, destacou.
Muitos dos depoimentos anônimos, reunidos no dossiê de Átila Correia revelaram um universo desprotegido, onde romper o silêncio quase sempre significou ignorar as regras de sobrevivência nas ruas.
“O que também causa bastante revolta nos casos de extermínio de crianças e adolescentes, é que são raros os casos em que os autores materiais e intelectuais são identificados, presos e condenados”, diz o autor do dossiê.