Pesa sobre mim as decisões erradas. No entanto, paradoxalmente, elas são tudo o que sou. Seja no vasto mar das dúvidas, ou nas ilhas de certezas, dispostas em lugares a esmo deste oceano de maré inconstante. Assim deve ser todo ser humano, creio eu, que estou inabilitado para divagar sobra a psicologia dos demais de minha espécie. Porém, se abate sobre mim, com o passar do tempo e o caminhar da idade, a cruel “matemática das desimportâncias”, onde a receita do que vivemos, nunca se inclina para o término saldo positivo do que deveríamos ter sido.
Certa vez, o imperador Julius Ceasar disse que aos poucos deixamos de ser o que realmente somos para acreditar naquilo que os outros dizem que somos, estabelecendo uma linha tênue de conflito constante, que vai sendo esquecida aos poucos, seja com o passar da idade, ou com o valor que damos – cada vez mais – as coisas insiginificáveis, como as superficialidades de nosso tempo. É a nossa interna faixa de Gaza.
A cada ano que passa matamos um palestino, que nos ataca com pedras, com as metralhadoras israelenses das necessidades imediatas: casa, água, luz, telefone, etc…em outras palavras, aquilo que os outros determinam para sermos: um cidadão de bem, que paga as contas em dia e vende a alma ao diabo, para não estar no SPC. Estranho jogo maquiavélico, onde os fins justificam os meios, e cada vez mais nos importamos mesmo é com o fim.
Acho que Julius Ceasar pensou tal frase aos 30 anos de idade, quando se deparou com a acirrada dúvida entre o que era e o que o Império esperava dele. A frase bem que poderia ser cristã, uma vez, que Jesus Cristo também se absteve de si mesmo para ser o filho de Deus, aos trinta anos de idade. Por fim…que idade é essa? Quando abandonamos o capricho de nossas inocências e crenças pueris, para enfim enxergarmos da forma mais cética o possível, que os moinhos de vento não são gigantes, e que nosso elmo, escudo e espada é muito pouco perto da luta que perdemos de forma prévia e anunciada.
Não somos o herói que pensávamos ser, mas ao 30 anos não vamos também nos tornar os criminosos capitalistas, seja burgueses ou operários de ruínas, que a vida nos ensina, ou nos cobra. É verdade, de direito e de fato, que para alguns, os trinta chegam antes, seja pela “imbecilização” mundana, ou pelas necessidades e experiências as quais são empurradas tais pessoas. Chegamos enfim ao início da falência dos ideais. Só nos resta soprar as velas, e manter a fé em atitudes amiúdes, que na maioria das vezes são encobertas por outdoors de multinacionais.
Não sei se esta dor é só minha que me aproximo de tal idade, ou se condiz com a maioria daqueles, que se encontram no intervalo matemático fechado que vai dos 25 aos 30. Não sei! Mas o que consigo apreender da inocência que me resta, é que nos pequenos atos, nas pequenas centelhas, ainda reside uma capacidade escondida do homem transformar o mundo ao seu redor, em simples atividades diárias. Seja no simples “Bom Dia”, ainda que suprimido de sentido, pela engrenagem mecanicista que tomamos, ou altruísmo passageiro de uma lágrima derramada em função da dor do outro.
Não podemos deixar que estes momentos passem, são nestas ilhas de coletividade que devemos agir.