Há questões menos complexas que conseguem ocupar a mente humana por muito tempo. Parodiando Mário Quintana, “de nada interessa a situação da China se nossos calos doem muito mais”. Verdade. Depois que a minha filha nasceu, uma questão aparentemente simples passou a me atormentar: me imaginava quando eu estivesse num ambiente público com ela e ela tivesse vontade de ir ao banheiro. Em qual eu a levaria? Ao masculino ou ao feminino? Simples? Nem tanto. Todos sabemos que, no Brasil, banheiro público não é sinônimo de limpeza, muito menos banheiro de homem – no caso o único que, infelizmente, eu tenho acesso sem ser taxado de maníaco sexual. Já com menino não tem problemas. Cansei de ficar com inveja quando via as mães levarem os filhos menores para os banheiros femininos. Com inveja dos meninos, fique-se claro.
A questão começou a me atormentar ainda mais quando a Isadora deixou de usar fraldas. E o alerta-geral veio quando, em pleno shopping, ela olhou pra mim e disse que estava com vontade de fazer xixi. Como um bom pai – ou pelo menos fazendo o papel de um – corri em direção à ala dos banheiros, enquanto a minha mente oscilava entre o feminino e o masculino. E quanto mais ela dizia que o pipi estava quase saindo, mais eu me afligia. E agora?
Escolhi o feminino. À porta do banheiro, me abaixei para ficar a sua altura e, como quem incentiva um atleta antes da prova mais importante da sua vida, lhe passei todas as instruções. Ela entrou, toda senhorinha de si e eu fiquei esperando na entrada, com a sensação de um Arquimedes depois de ter descoberto o Princípio da Hidrostática (com a diferença que o matemático grego saiu correndo do banheiro quando pronunciou o famoso “eureka”. Eu estava querendo entrar em um).
Nem notei que estava quase invadindo o banheiro, nem tão pouco os olhares de reprovação ou os risinhos maliciosos das mulheres que entravam e saíam do local, reprovando aquela presença estranha ao ambiente.
Cada segundo que minha filha passava lá dentro era o mais demorado da minha vida de pai. Por que demorava tanto?, queria eu saber. E o tempo foi passando e eu cada vez mais apreensivo, sem saber o que estava acontecendo lá dentro. E sem poder entrar, o que era pior.
Mas, independente da espera, fiquei pensando comigo que a solução para essa questão não foi tão difícil. Eu só teria que esperar do lado de fora, nada mais.
Ainda refletia sobre isso quando uma vozinha vinda lá de dentro, num delicioso e irrecusável pedido de socorro, me desviou dos pensamentos:
– Pai, vem limpar o meu bumbum!