A oposição partiu para o ataque e já pede a prisão de ex-dirigentes do PT após as revelações feitas nesta sexta-feira pelo empresário Marcos Valério. Em nota, o empresário assume um esquema de financiamento do PT e diz ter contraído "vários empréstimos" em nome de suas agências de publicidade, SMP&B e DNA. Segundo Valério, os recursos eram entregues ao PT. "E depositados na rede bancária para pessoas indicadas pelo então secretário de finanças do PT, senhor Delúbio Soares", afirma.
Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), as afirmações de Valério já são suficientes para pedir a prisão de ex-dirigentes do PT. "Imagino que as condições para prisão de dirigentes do PT estão dadas", afirmou. ""A falta de decoro está configurada. O importante é a relação promíscua entre o PT, o governo e o Valério", ressalta. Até a semana passada, o PT era comandado por José Genoino (presidente), Silvio Pereira (secretário-geral) e Delúbio Soares (tesoureiro). Os três pediram afastamento e foram substituídos, respectivamente, por Tarso Genro, Ricardo Berzoini e José Pimentel.
Já o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) acusa o PT se cometer "improbidade administativa". "Acaba sendo um empréstimo para beneficiar o partido político e quem calça essas operações é o dinheiro público", disse. "O PT tem agora a obrigação de indicar quem se beneficiou desse esquema. Isso mostra uma relação de promiscuidade, configura desvio de finalidade", afirmou. O Último Segundo tentou entrar em contato com parlamentares do PT, mas os telefonemas não foram atendidos.
Na nota, Valério destina toda responsabilidade do esquema ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. O empresário diz que Delúbio argumentava que o dinheiro seria utilizado para financiamento de campanha eleitoral. "Todos os pedidos de socorro financeiro feitos pelo senhor Delúbio Soares baseavam-se, de acordo com o próprio secretário do PT, na necessidade de saldar dívidas relacionadas a campanhas eleitorais", diz Valério.
Segundo ele, as operações dos empréstimos para o PT não tinham irregularidades. "Obedeceram sempre às normas vigentes para o sistema financeiro nacional". O empresário nega ainda qualquer relação com o suposto esquema de mesadas do PT a aliados no Congresso. Valério é acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do "mensalão" aos parlamentares.
Em entrevista ao Jornal Nacional nesta sexta, Valério deu mais detalhes sobre os empréstimos. Disse que podem ser comprovados. "É só quebrar os sigilos". Na entrevista, Valério alterou também sua versão sobre os saques milionários feitos das contas de suas agências. Segundo ele, esses saques eram feitos por pessoas indicadas por Delúbio Soares para receber o dinheiro dos empréstimos.
O empresário evitou falar em valores. Valério alega ter se comprometido com o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, a manter sigilo sobre o teor dos empréstimos. Valério encontrou-se com procurador na quinta-feira. O empresário pediu proteção policial e sugeriu um acordo: abriria o jogo e em troca receberia benefício da Justiça em caso de punição. A proposta, no entanto, não foi aceita pelo procurador. Antônio Fernando de Souza considerou prematuro o pedido de Valério em razão de o empresário ainda não ser reú sobre as denúncias.
Leia abaixo a íntegra da nota de Valério:
"O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza torna público que:
1. Em atenção a pedidos do sr. Delúbio Soares, então secretário nacional de finanças do Partido dos Trabalhadores, contraiu vários empréstimos bancários em nome das agências de publicidade SMP&B e DNA no período de 2003 a 2005;
2. As referidas operações de crédito, bem como toda a movimentação financeira originária daquelas operações, obedeceram sempre às normas vigentes para o sistema financeiro nacional;
3. Os recursos originários dos financiamentos foram transferidos, sempre segundo a legislação que regula o sistema financeiro, para o Partido dos Trabalhadores, a título de empréstimos, e depositados na rede bancária para pessoas indicadas pelo então secretário de finanças do PT;
4. Todos os pedidos de socorro financeiro feitos pelo sr. Delúbio Soares baseavam-se, de acordo com o próprio secretário do PT, na necessidade de saldar dívidas relacionadas a campanhas eleitorais. O empresário Marcos Valério reafirma que não tem conhecimento e, muito menos, qualquer envolvimento com a suposta prática do que tem sido denominado de mensalão."