Movimento reflete ‘Crise do Estado Nacional’

Para o especialista em Ciências Políticas pela Universidade de Campinas (Unicamp), Gilberto Coutinho, o movimento de 17 de julho possui reflexos diretos de outro fenômeno político, considerado ‘Crise do Estado Nacional’. Ex-secretário de Assistência Social do Governo Lessa, o historiador trabalha atualmente numa tese de dissertação de mestrado do curso de Sociologia da Ufal, que tem como tema o 17 de julho.

Com base na pesquisa iniciada para o mestrado, que em breve será transformada em livro, o historiador afirma: “A crise do 17 de julho não nasceu da má administração do ex-governador Divaldo Suruagy. Essa é uma crise nacional, que em âmbito local teve seus efeitos ampliados”, diz Coutinho.

O fenômeno definido pelo cientista político como Crise do Estado Nacional, refere-se ao momento sócio-econômico do país, agravado durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, quando o governo federal reduziu investimentos em vários setores, obrigando estados a reduzirem gastos diversos.

A perda da capacidade de manter os níveis de gastos, e a dívida pública estrangulando as finanças do Estado, levaram Alagoas a uma crise sem precedentes, recorda o historiador. No caso particular de Alagoas, a situação começou a se agravar com o fim dos subsídios concedidos ao setor sucro-alcooleiro e extinção do Instituto do Açúcar e do Ácool – IAA.

“Com o falso discurso de crise defendido pelo setor, e a composição do chamado Acordo dos Usineiros, durante o Governo Collor, que motivou a devolução de impostos para usineiros modernizarem suas fábricas, teve início a quebradeira do Estado”, descreve.

Na avaliação de Gilberto Coutinho, o erro de Suruagy foi tentar governar o Estado como se nada estivesse acontecendo. “E para piorar a situação, o governador aceitou fazer uma série de acordos, como os que motivaram a liquidação do Produban, a venda das Letras do Tesouro Estadual e fechando o cerco, o PDV, que desestruturou o Estado”, recorda.

Alagoas sem perspectivas

Reavaliando o movimento do 17 de julho – que considera a mais grave crise política vivenciada por Alagoas, mais grave até que o episódio Muniz Falcão, pois, segundo ele, representou abalos na estrutura social do Estado –, Coutinho parece compartilhar do mesmo sentimento de outros historiadores. “Não vejo perspectivas de um novo momento político como este que levou a esquerda ao poder em Alagoas, em1997”, afirma.

Diante da crise política do Partido dos Trabalhadores, momento de fragilidade nacional, que desnorteia os movimentos sociais, Coutinho antevê dias ainda mais nebulosos para a esquerda em Alagoas. “Os partidos de esquerda sequer tem um candidato para suceder Ronaldo Lessa, os movimentos sociais estão sem rumo, a esquerda está em declínio”, finaliza.

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