Jornalista é, por natureza, um contador de histórias. Infelizmente, nem todas são agradáveis. Há as tristes, as más, as mais ou menos, as péssimas. Há quem diga que notícia boa é notícia ruim. E vice-versa. Tenho minhas dúvidas. Particularmente, gosto de notícias que me façam bem. Mas na profissão, não é possível se dar ao luxo de escolher o que se vai contar. Até porque, ao jornalista cabe narrar os fatos como eles aconteceram, sejam eles bons ou ruins.
Disso tudo, o bom mesmo é se deliciar com as histórias que acontecem nos bastidores da profissão, que dificilmente o grande público fica sabendo. E melhor ainda é quando o envolvido na história é o próprio jornalista, ou seja, quando ele passa a ser a própria história. Recentemente, um colega de profissão de um jornal de Alagoas foi um desses sortudos que tiveram seus quinze minutos de fama. Má-fama, fique-se claro.
Profissional competente, com boa experiência na reportagem (área em que já cobriu desde grandes acontecimentos nacionais a pequenos fatos do cotidiano local), o jornalista se viu, dias desses, envolvido num caso de polícia.
O fato se deu em Palmeira dos Índios, a terra de Graciliano Ramos. Com muito esforço, o repórter juntou suas economias e decidiu presentear o filho com um Fusca mil-novecentos-e-alguma-coisa. Todo orgulhoso, entregou o presente ao garoto que, na primeira viagem que fez, trocou o Fusquinha por uma Honda Bis com emplacamento e dezenas de prestações à Vasco da Gama: vencidos.
O sabido da motocicleta ainda quis dar uma de esperto para cima do filho do nosso colega, tentando lhe tirar mil reais de torna.
– A moto é de procedência – disse ele.
– Quem garante?
– O Boga. Sou conhecido por estas bandas. Chegou é só perguntar: conhece o Boga? Não tem outra. Todo mundo conhece…
Achando que tinha feito um excelente negócio, o garoto foi mostrar a motocicleta ao pai, que sentiu de longe o cheiro de encrenca.
– Com quem você trocou? – quis saber o jornalista.
– Troquei com o Boga, pai.
– Que Boga!? Você tá maluco?
– Ele é conhecido em Palmeira…
– Claro! Em todo lugar tem Boga.
– Mas ele me deu a palavra que a coisa é limpa.
– Vindo de um Boga? Duvido que seja.
Rumaram os dois para delegacia, numa das pouquíssimas incursões do nosso repórter por esses locais. Num misto de vergonha e raiva, o jornalista foi relatando os fatos ao delegado, evidentemente escondendo o nome do suspeito. Até que o chefe de polícia, depois de ouvir toda a história, quis saber:
– Quem é o culpado?
– O “seu” Boga, delegado.
Até se justificarem do mal entendido, os dois passaram por maus lençóis, correndo sérios riscos de ficarem presos por desacato à autoridade.