Em pleno Dia do Escritor, a professora aposentada e escritora Ruth Quintella bateu um papo descontraído com a equipe do Alagoas 24 Horas. Distante da timidez e esbanjando energia, Ruth mostra como povoa a imaginação de garotos e garotas, desde1994, quando começou a escrever oficialmente. De lá para cá foram nove livros.
Nesta segunda-feira, só que a noite, Ruth Quintella toma posse na Academia Nordestina de Letras. Indagada sobre o fato, ela ri e se limita a dizer: “ser lembrada já é uma homenagem. Espero todos vocês lá, afinal a imprensa têm um papel fundamental na divulgação do escritor alagoano”.
Como a senhora vê a situação do escritor alagoano? Há o que comemorar no Dia do Escritor?
Sempre há o que comemorar, mas precisamos de divulgação. De projetos e ajuda, pois publicar um livro é algo muito caro. Imagine o que é uma professora aposentada tirar dois mil reais para publicar o seu livro, e vê o retorno de forma lenta, passo a passo. Tendo ainda que pagar uma porcentagem a vendedores. Nosso cenário é bom, precisamos de pessoas que vistam a camisa da nossa terra. Vocês da imprensa têm um papel fundamental nisto, revelem escritores, mostrem aqueles que já existem e estão aí. No meu caso, que tenho amigos na imprensa encontro portas abertas, mas ainda assim nem todos os alagoanos lêem jornais, e o que vale é o que está na mídia.
Como a senhora analisa a sua atividade de escritora, depois de tudo o que viveu e escreveu?
Bem, a minha idade não me pergunte, calcule pela minha aparência (risos), pois eu vivo pela minha energia, alguns dias analiso as coisas de uma forma melhor que o dia anterior. O que vale é que nesta vida cada um tem um compromisso com o seu próprio dom. Vivê-lo com plenitude é nossa obrigação. Nascemos para dar conta de nossos talentos, eu estou dando conta dos meus.
A senhora já é uma escritora consagrada no meio literário alagoano. Com uma obra bastante elogiada. Porém, ainda sofre com divulgação, dependendo de amigos. Por quê?
Eu ainda não ganhei na mega-sena. Acho que é isto. Jogo pouco, eu sei, mas no dia que eu ganhar, terei dinheiro para divulgar. Pois não vale a idéia, mas sim quanto você tem para gastar. Quando eu ganhar a mídia saberá quem é Ruth Quintella, assim como sabe quem é Ronaldinho ou Paulo Coelho. É preciso gastar milhões para aparecer. Minha sorte – como já falei – são meus amigos, que vão a minha casa quando os ligo, ou que me ligam e eu os recebo.
Quer dizer que é praticamente impossível viver de literatura?
É impossível, a não ser que você tenha outras possibilidades, que façam que a sua literatura apareça, como é o caso de escritores de best-sellers. Porque você paga o seu próprio livro para ele poder ser vendido e ainda têm que gastar uma nota para aparecer. Sem contar, que pouca gente conhece e compra. É mais fácil gastar dinheiro com outra coisa (risos).
Como e quando a senhora resolveu se tornar escritora?
Aos quatro anos de idade, quando comecei a aprender a ler. Foi o estímulo inicial, comecei com as coisas de criança, passei para os poemas da adolescência e enfim, no ano de 1994 sai com o meu primeiro livro infantil, o Gogó da Ema, com o patrocínio da Socôco.
Esta realidade que a senhora descreve, que é difícil de ser superada, já chegou a desestimulá-la alguma vez?
Nada me desestimula. Às vezes eu sinto que o meu tempo já está ficando curto e há toda uma vida entrelaçada, cuidar da minha família, apesar de não ter casado e as minhas obrigações pessoais. Porém, eu ainda estou escrevendo. Fiz um livro sobre Educação Ambiental voltado para Alagoas, por exemplo, mas quem banca? Mas, o que sempre me estimula, é saber que estou deixando uma mensagem para a gente da minha terra.