O verde esmeralda das águas do São Francisco é a primeira imagem a fascinar o turista que chega a Piranhas. Seduzidos pela visão dos vales e montanhas, trilhas de vegetação árida e colorido do casario, muitos se apaixonam e repetem o roteiro diversas vezes. Nos últimos meses, a cidade tem recebido excursões de países da Europa e experimenta atualmente um fenômeno surpreendente, a descoberta de suas belezas por turistas alagoanos.
Cultura, arqueologia, história. Em busca de conhecimentos, o turista que opta pelos roteiros de Piranhas, e seus povoados, espera conviver com pessoas simples que preservam tradições e heranças seculares. Do passado, lendas e folclore, traços culturais que se misturam a relatos contemporâneos, encantando visitantes, fascinados por descobrir uma região impregnada de beleza e geograficamente privilegiada pela natureza.
Cidade histórica
Localizada no sertão nordestino, em um ambiente de caatinga, a cidade de Piranhas foi edificada num pequeno vale do cânion do rio São Francisco. Do contraste entre relevo e arquitetura, o antigo centro histórico, hoje conhecido como ‘Piranhas Velha’, chegou ao século XXI preservando bens patrimoniais e o rico conjunto arquitetônico.
A região preserva detalhes da época em que a cidade nasceu, ainda como um conjunto de aglomerados simples, tornando-se após 1881, potencialmente geradora de riquezas a partir da construção da Estrada de Ferro Paulo Afonso.
Da ferrovia, restaram apenas a arquitetura da antiga estação, o galpão que em breve se transformará em centro de comercialização de artesanato, a trilha da linha férrea – hoje sem os dormentes – a torre da estação e fotografias da época, guardadas no prédio sede da Secretaria de Turismo, onde funciona o Museu do Sertão.
Os tempos modernos, que trouxeram a Hidroelétrica de Xingó, novos bairros e uma população de 23 mil habitantes – hoje o centro histórico é habitado por aproximadamente 1.800 moradores – destoam do passado de uma Piranhas, visitada pelo imperador D.Pedro II, onde navios e canoas de tolda navegavam o São Francisco comercializando uma infinidade de produtos.
Apesar das transformações e modernidades, o tempo foi generoso com Piranhas. O município resguarda relíquias naturais abençoadas pelo próprio rio e suas montanhas de paredões rochosos, integrando designer arquitetônico e paisagens, para o bem do turismo.
Cenários preferidos pelos turistas
Vislumbrar o pôr-do-sol de em uma das janelas do centro histórico, andar por ruas de pedra, molhar os pés na margem do velho Chico, saborear pratos a base de peixes e pitu, ou simplesmente passar minutos contemplando as lavadeiras e os nativos mergulhando nas águas do rio. Paisagens preferidas por turistas que visitam a cidade.
“Os europeus que chegam em nossa cidade não vêm em busca do que motiva as viagens para o litoral do país, eles querem encontrar a história, a essência do povo”, conta Jairo Oliveira, diretor turístico de Piranhas.
Os roteiros mais procurados são: as trilhas do cangaço e Angico, que conduzem por caminhos rochosos – de vegetação de caatinga, e cenários por onde andaram Lampião e seu bando – a rota do artesanato, com as belezas do povoado de Entremontes e caminhadas por trilhas alternativas.
Uma delas é a da linha férrea, caminho feito em uma estradinha de barro, que corta paredões de rochas, emolduradas pela vegetação de caatinga e pelo cânion do São Francisco. Em quatro quilômetros de trilha, o roteiro reserva momentos de pura contemplação da natureza. Belezas a disposição de qualquer aventureiro adepto de caminhadas.
Como recompensa, o visitante pode avistar cenários inóspitos como a ‘Ilha da Cobra’, batizada no passado pelo boêmio Altemar Dutra como a ‘Ilha do Cidadão’, andar por caminhos onde antes passavam trilhos da estrada de Paulo Afonso, admirar montanhas, prainhas e remansos, e a ponte que divide os estados de Alagoas e Sergipe.
Trilha da Pedra do Sino
Outro roteiro que reúne história e arqueologia, é a Trilha da Pedra do Sino. Descoberta em 1859, a paisagem natural de rocha granítica atrai muitos professores, estudantes e pesquisadores universitários. A rocha gigante, de aproximadamente três metros, reproduz o som de um sino, quando é tocada com força.
A trilha foi destaque do livro de Teodoro Sampaio, ao narrar a aventura do geólogo holandês Oville Derby, integrante da comitiva de D.Pedro II, quando visitou a região, no século XIX.
Aquarela do Brasil no sertão de Alagoas
A melodia das grandes orquestras invade as casas do centro histórico todas as tardes em Piranhas. O som de metais, velho conhecido na região central da cidade, vem do sobrado onde mestre Elísio comanda a filarmônica formada por jovens do município.
Das partituras regidas pelo velho maestro saem peças clássicas e contemporâneas, algumas pérolas, como Aquarela do Brasil. Na pequena sala do sobrado onde acontecem os ensaios, meninas e adolescentes concentram-se na interpretação das notas musicais, tendo como vista, o cais do São Francisco. Mais tarde, todos se encontram por lá, para paquerar ou conversar com os amigos.
O encontro inusitado da música clássica com a cidade histórica tornam o cenário ainda mais interessante. Um clima de nostalgia capaz de encantar qualquer visitante.