Em depoimento espontâneo à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, nesta quinta-feira (11), o publicitário Duda Mendonça disse ter aberto conta nas Bahamas – por orientação do empresário Marcos Valério, acusado de operar o mensalão – para receber cerca de R$ 10 milhões como pagamento por serviços publicitários e de assessoria política prestados ao PT. Ele relatou ter sido alertado por seus advogados para o risco de contar a verdade na CPI, mas que teria decidido falar assim mesmo.
– O maior risco é permitir que uma imagem respeitável, construída em mais de trinta anos de trabalho, seja manchada. Não me considero culpado. Posso ter cometido um erro fiscal, mas não cometi erro de caráter. Eu realizei um trabalho e precisava receber o pagamento. Sei que corro riscos, mas prefiro acabar com esse pesadelo de uma vez, pagar o preço que for necessário e ir para minha casa beijar meus filhos tranqüilo – disse Duda, chorando.
O publicitário depôs como testemunha e disse ter decidido comparecer à CPI porque "as coisas não podiam continuar assim". Contou ter participado de campanhas para diversos partidos além do PT – como PSDB, PSB, PFL e PTB – e afirmou que sempre procurou fazer campanhas limpas, por acreditar que "quem bate perde".
Duda explicou que gasta muito nas campanhas, paga grandes quantias aos fornecedores e que se responsabiliza por esses pagamentos. O publicitário contou já ter feito campanhas em que "levou cano", mas sempre pagou os fornecedores.
– Meu dinheiro é limpo, minha empresa é seria, sou honesto, pago todos os meus tributos. Minha empresa paga lucro presumido. Não ganho nada em receber por fora – garantiu.
A partir de 2001, segundo relatou, passou a trabalhar principalmente com o PT e, nesse período, foi chamado pelo partido para fazer a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Em 2002, fechou um novo pacote com o partido, incluindo programas de televisão e outros serviços. Todo o pacote foi fechado por R$ 25 milhões, de acordo com o publicitário. Duda informou que, em 2003, o PT ainda lhe devia R$ 11 milhões, fora um novo pacote contratado por R$ 7 milhões.
Nesse momento, ainda segundo o publicitário, o então tesoureiro do PT Delúbio Soares teria dito à sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira, que procurasse um publicitário de Minas Gerais, Marcos Valério, porque ele iria "resolver o problema da gente".
Nessa época, a dívida total do partido com as empresas de Duda girava em torno de R$ 18,5 milhões. Duda contou que, quando Zilmar foi receber a primeira parcela de R$ 300 mil, que achava que viria em cheque, foi paga com um pacote de dinheiro. Por essa maneira, a empresa recebeu cerca de R$ 1,4 milhão. Independentemente desses pagamentos feitos pela SMP&B, ainda de acordo com o relato, Duda recebia dinheiro de Delúbio Soares, que teria pagado pessoalmente, ou por emissários, cerca de R$ 3,8 milhões.