A sessão plenária desta segunda-feira (15) foi dedicada a homenagear o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, que faleceu aos 88 anos, no último sábado, vítima de infecção respiratória agravada por insuficiência renal.
A trajetória de Arraes na vida pública foi exaltada tanto por correligionários quanto por adversários políticos que, ao final da sessão, fizeram um minuto de silêncio em reverência a sua memória. O Senado também deverá realizar, em breve, sessão especial em homenagem ao líder socialista.
Presidente do Partido Socialista Brasileiro, Arraes foi deputado estadual, prefeito de Recife, três vezes governador de Pernambuco e três vezes deputado federal – a última, na atual legislatura.
Só conheceu a derrota nas urnas na campanha eleitoral de 1998, quando tentou reeleger-se governador contra Jarbas Vasconcelos e perdeu o pleito por uma diferença de 1 milhão de votos. Enterrado domingo, o traslado de seu corpo partiu do Palácio das Princesas, exatamente onde, em 1964, foi preso para, depois, ser deposto e exilado pelo regime militar.
Nascido em Araripe (CE), em 15 de dezembro de 1916, Arraes concluiu o curso secundário na cidade de Crato, mudando-se em seguida para Recife, a fim de prosseguir com seus estudos.
Prestou concurso público e tornou-se, em 1933, funcionário do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Ao mesmo tempo, estudou Direito, formando-se em 1937.
No IAA, Arraes conheceu Barbosa Lima Sobrinho, que o nomeou, em 1943, delegado regional desse organismo, convidando-o mais tarde, em 1948, para assumir a Secretaria Estadual da Fazenda. A esse cargo, sucederam-se diversos mandatos e, 16 anos depois, com o movimento militar de 1964, sua deposição do Palácio das Princesas.
Nas mãos dos militares, Arraes enfrentou algumas prisões brasileiras, até seguir, em 25 de maio de 1965, para o exílio na Argélia. Voltou ao Brasil 14 anos depois, beneficiado pela Lei da Anistia.
Fumante inveterado e notável pela maneira monossilábica pela qual se comunicava, Arraes inaugurou em Pernambuco um estilo de fazer política que o habilitou a interferir na articulação dos mais significativos momentos dos últimos 50 anos da história brasileira.
Foi referência popular antes do golpe de 1964 e um dos símbolos da resistência no período da ditadura. Com a redemocratização, tornou-se interlocutor de larga influência e participou da fundação do PSB.
Foi o último líder do período histórico em que se destacaram nomes como Juscelino Kubitschek, João Goulart e Leonel Brizola. Extremamente identificado com o Nordeste, foi moderno àquela época.
Quando se falava em ligas camponesas, estabelecidas como cooperativas para lutar pela distribuição de terras, ele já defendia a criação de sindicatos no campo, pleiteando os benefícios da legislação trabalhista também para os trabalhadores rurais.
Ao contrário de políticos como Brizola, que se esforçaram por construir uma imagem de líder nacional, Arraes sempre foi um mito identificado com o Nordeste. Empenhado na causa popular, no ideal da igualdade e na luta pelo fortalecimento da democracia, nas últimas décadas, ele foi criticado por ater-se a uma visão extremamente nacionalista, moldada nos paradigmas de 1964.
Acusavam-no de negligenciar as mudanças verificadas no mundo. Só a história, com a segurança proporcionada pelo passar do tempo, e sem as paixões da política contemporânea, o analisará com isenção.