Além do custo exorbitante do metro cúbico de água transportada do Rio São Francisco para irrigação no chamado Nordeste Setentrional (parte do semi-árido do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba), o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL) descobriu as “incoerências” no projeto apresentado pelo governo. Segundo ele, o Ceará e o Rio Grande do Norte possuem reservas de água em açudes e barragens suficiente para abastecer uma população superior a 8 milhões de habitantes por 44 anos, com o consumo diário de 100 litros per capita.
Téo, que fez pronunciamento no Senado condenando o projeto de Transposição – ele advertiu sobre a necessidade de se revitalizar o Rio São Francisco – sustentou o discurso nos números coletados no Departamento Nacional de Obras Contra Seca (DNOCS) e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “No Ceará são 125 açudes públicos que acumulam 17,5 bilhões de metros cúbicos de água. Isto é mais da metade da capacidade de Sobradinho, cuja barragem foi construída para regularizar a vazão do São Francisco o ano inteiro”, disse o senador.
Transposição
Téo Vilela mostrou que no Rio Grande do Norte a situação não é diferente, somente o açude Piranhas-Açu acumula 3,5 bilhões de metros cúbicos de água – e grande parte não está sendo utilizada. O senador tucano quis mostrar, no discurso, que o projeto de Transposição do São Francisco visa levar água para onde já existe – o que não existe são projetos de beneficiamentos e quando existem, estão paralisados por falta de verba, de acordo com o senador. “O açude Castanhão, no Ceará, garante uma vazão de 65,3 metros cúbicos de água por segundo, mas perguntem se está sendo aproveitada? Não está”, completou o senador.
O projeto de Transposição das águas do Rio São Francisco, para o abastecimento de parte do semi-árido do Ceará, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e da Paraíba – o chamado Nordeste Setentrional – está dividido em dois eixos: Norte e Leste. O primeiro vai abastecer o semi-árido do Ceará e do Rio Grande do Norte e terá cerca de 500 quilômetros de canal.
O Eixo Leste vai abastecer o semi-árido de Pernambuco e da Paraíba e está projetado para 220 quilômetros, totalizando 720 quilômetros de canal. Mas, o senador Téo Vilela chamou a atenção para a necessidade de o canal vencer recalques (elevações) superiores a 300 metros.
O senador alagoano considerou o projeto de Transposição inoportuno, por haver recursos hídricos não-explorados e, também, porque fixa o universo de pessoas a serem beneficiadas em número que somente será atingido em 2025.
Orçado em R$ 7 bilhões, o projeto, na opinião do senador, tem muito mais fins eleitoreiros que técnicos. Téo Vilela cita os exemplos de projetos menores, implantados nos diversos estados nordestinos e, entre eles, Alagoas, que estão paralisados porque o governo federal não libera o dinheiro. “Pensar em Transposição das águas do Rio São Francisco, quando o Projeto do Canal do Sertão, em Alagoas, está paralisado, é um disparate”, concluiu o senador.