Organização para o associativismo, capacitação empresarial e gerencial são ações que têm contribuído para mudar a realidade de 82 famílias de catadores de mariscos que vivem próximas a manguezais de quatro cidades litorâneas de Alagoas: Coruripe, Barra de São Miguel, Passo de Camaragibe e Paripueira.
Aos poucos, essas pessoas começam a deixar a condição de catadores para se transformar em produtores de ostras.
Iniciado em 2003, o trabalho, que é resultado de parceria firmada entre o Sebrae em Alagoas e a organização não-governamental (ONG) Oceanus, tem contribuído para aumentar a renda familiar dessas comunidades. Caso de Manoel Cícero Rocha, 44 anos, que mora na Barra de São Miguel. Em julho de 2004, quando entrou para o projeto, sua renda era de apenas R$ 50 por mês. Hoje, retira cerca de R$ 500 mensais com a venda de ostras.
Com o dinheiro, sustenta a esposa, que está grávida, e mais quatro filhos. Além disso, já conseguiu ampliar o patrimônio. “Com o cultivo das ostras, pude melhorar minha casa, que antes era de taipa e agora é de alvenaria, comprei televisão, DVD e até comprei um fusquinha”, diz o produtor, que preside a Associação os Ostreicultores da Barra de São Miguel.
A história de Cícero é, acima de tudo, uma história de perseverança. Na primeira etapa do projeto, ainda em 2004, ele era um dos 14 catadores de mariscos envolvidos nas ações do Sebrae em Alagoas e da ONG Oceanus. Por dificuldades na produção em cativeiro, em pouco tempo, 13 catadores desistiram.
Restou apenas Cícero, que corrigiu falhas na produção e passou a vender ostras de suas três áreas de cultivo para a unidade de depuração natural da Oceanus, em Paripueira. No local, existem tanques naturais, construídos próximos à praia, que lavam e conservam as ostras retiradas dos mangues. Animados com o sucesso de Cícero, nove catadores de mariscos se reintegraram à associação local.
A experiência vivida por Cícero é similar à de Antônia Maria Faustino, de 42 anos. Moradora da comunidade de catadores de mariscos de Coruripe, ela foi uma das principais animadoras do processo na cidade. Hoje, preside a Associação dos Ostreicultores de Coruripe, que reúne 30 pessoas. “O Sebrae foi maravilhoso em tudo. Trouxe cursos para a gente, orienta as pessoas e mostra que a união da comunidade é importante para o sucesso do projeto”, diz.
Cooperativa
A meta do projeto apoiado é montar, no médio prazo, uma cooperativa com unidade de beneficiamento. A Oceanus, que doa materiais como mesas para cultivo das ostras para as comunidades de catadores de mariscos, é também responsável por adquirir a produção. Hoje, o estoque nos tanques de depuração é de 150 mil unidades.
Por mês, a Oceanus compra cerca de 25 mil ostras produzidas pelas 82 famílias envolvidas no projeto. Mas, para entrar no mercado de forma competitiva, é preciso elevar a produção. Por isso, há negociações para estender o projeto aos municípios de Marechal Deodoro, Barra de Santo Antônio, Japaratinga, Maragogi, Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres. O primeiro passo será a capacitação dos catadores desses locais para a ostreicultura.
Fábio Colin, integrante da Oceanus, estima que uma produção em torno de 200 mil ostras por mês daria fôlego suficiente para viabilizar o projeto. “Por isso, continuamos as ações para que os produtores envolvidos aumentem a produção e estamos iniciando outras para trazer mais gente para o projeto”, diz.
De acordo com Isabel Barcellos, gestora da Cadeia Produtiva de Aqüicultura do Sebrae local, paralelamente à formação da cooperativa, o Sebrae também atua na região com o programa Via Design. Em parceria com o Senai, a instituição desenvolve projeto para criar identidade visual para a marca ‘Paraíso das Ostras’ e embalagens para o produto.
"Em 2006, nós vamos levar o Programa Alimentos Seguros (PAS) às comunidades para levar informações sobre boas práticas de manipulação de alimentos", adianta Isabel Barcellos.
Preservação ambiental
Além do viés de inclusão social, o projeto realizado pelo Sebrae em Alagoas e pela ONG Oceanus também tem caráter de preservação ambiental. Ao capacitar catadores de marisco, as instituições reverteram dois quadros: a retirada de ostras dos mangues antes do tamanho ideal, o que prejudica a perpetuação da espécie; e o corte de vegetação do mangue para retirar o marisco.
“Os produtores passam a ter a consciência que a extração predatória não traz benefícios nem do ponto de vista econômico nem no aspecto de preservação ambiental”, assinala Fábio Colin.
Serviço:
Sebrae em Alagoas – (82) 3216-1693
Associação dos Ostreicultores de Coruripe – (82) 9912- 4817
Associação dos Ostreicultores da Barra de São Miguel – (82) 9904- 3447