O proprietário do restaurante Fiorella, Sebastião Augusto Buani, confirmou hoje ter pago mais de R$ 110 mil entre 2002 e 2003 ao deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), então primeiro-secretário da Câmara. Em entrevista coletiva, o empresário disse ainda que o documento que firmou o acerto foi redigido pelo deputado federal Gonzalo Patriota (PSB-PE).
Buani diz que, em 2002, pagou R$ 40 mil para prorrogar a concessão do restaurante, que fica no 10º andar do anexo 4 da Câmara, por mais três anos. Segundo ele, Severino, mesmo tendo recebido o dinheiro, não cumpriu o acordo. Foi então que, em 2003, Buani diz que passou a pagar o que chama de "mensalinho", R$ 10 mil por mês a Severino para manter os restaurantes na Câmara. Um cheque de junho de 2003 seria a única prova, de acordo com Buani, além de funcionários que podem testemunhar.
Buani explica que, em 1997, ganhou em segundo lugar a licitação para ocupar os quatro restaurantes e sete lanchonetes da Câmara durante cinco anos. Segundo ele, a empresa que ganhou a licitação ficou apenas por três anos "por maus serviços prestados". Foi então que ele assumiu até 2002, quando terminava o contrato.
O empresário diz que, em março de 2002, entrou com solicitação na Câmara para que o tempo de concessão começasse a contar a partir de sua entrada, em 2000. Quando o pedido estava na mesa do então primeiro-secretário, relata ele: "Recebi um telefonema para ir ao seu gabinete, lá foi me apresentado um documento".
Segundo Buani, o documento foi redigido pelo deputado federal Gonzalo Patriota: "Quem me avisou que tinha uma saída para o meu problema foi ele [Patriota] (…), mas acertei com o Severino". O então primeiro-secretário teria dito, segundo Buani: "‘A gente precisa de uma ajuda e gostaria de saber no que o senhor pode ajudar. (…) Você vai me dar R$ 20 mil por ano’". Buani contou aos jornalistas ter argumentado na ocasião que não tinha R$ 60 mil. O acordo foi, então, fechado em R$ 40 mil.
Na mesma hora, Buani teria ido sacar aproximadamente R$ 20 mil. "Eu e ele [Severino] saímos com o dinheiro nas mãos". Buani afirma que, para sua surpresa, Severino não cumpriu o acordo e indeferiu o pedido. O empresário disse que foi ao gabinete e Severino disse a ele: "‘Não se preocupe. Enquanto eu estiver na Mesa, você estará na Casa’".
No lugar da prorrogação, a Câmara ofereceu um contrato emergencial de um ano. Buani conta que, no final de janeiro de 2003, Severino lhe teria dito: "‘Já estou com seu processo em mãos para assinar, vou fazer com que você ganhe muito dinheiro aqui". No dia 31 de janeiro de 2003, o empresário diz que sentou "às 17h na Primeira Secretaria com um pires na mão para que ele assinasse meu contrato, no dia seguinte haveria eleição da Mesa".
Na ocasião, de acordo com Buani, Severino teria novamente dito a ele "‘vê aqui no que você pode me ajudar, não serei mais primeiro-secretário’. Ele ria e me abraçava". O empresário diz que Severino pediu R$ 20 mil por mês, mas "bateu o pé em R$ 10 mil, às 22h40 do dia 31".
Ainda segundo o empresário, como fevereiro é mês de recesso parlamentar, o movimento nos restaurantes diminuiu e ele não teve "o dinheiro para pagar". "Consegui R$ 5 mil e, os outros R$ 5 mil, Severino disse: ‘Nós vamos diluir nos próximos dois meses’". Buani conta que, nesse momento, fechou os restaurantes que tinha em outros pontos da cidade e pagou o que chama de "mensalinho" em março, abril e maio. Em junho, veio um novo recesso. "Aí o homem ficou bravo", contou Buani. Segundo o empresário, ele pagou Severino por meio de um cheque. Esta, segundo ele, é a única prova dos pagamentos, já que o restante teria sido feito em "dinheiro vivo com a arrecadação diária dos almoços".
Buani disse ainda que não sabe, ao certo, até quando pagou o "mensalinho", se agosto ou setembro de 2003. Em janeiro de 2004, o empresário afirma que foi consultado pela Câmara para saber se havia interesse em um novo contrato emergencial. "Me tomaram a lanchonete do anexo 3, que era a melhor, e deram para o então diretor de segurança da Câmara". Ele disse ainda que, em meados de 2004, a Câmara "tomou-lhe" os demais restaurantes. "Aí fiz a loucura de oferecer o aluguel à Câmara". Buani conta que passou a pagar R$ 11.580 pelo aluguel e R$ 2 mil de água e luz. Sem conseguir pagar, foi acumulando dívidas com a Câmara dos Deputados.