A possibilidade de haver nova eleição para a presidência da Câmara está mexendo com o ego de parlamentares, na opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Tem muita gente sendo picada pela mosca azul", disse ele a interlocutores durante a visita desta sexta-feira a Maceió (AL), segundo apurou a Folha.
Lula não citou a esses interlocutores quem estaria ansioso com a possibilidade de conquistar mais poder, nem comentou as articulações para a escolha do eventual substituto de Severino Cavalcanti (PP-PE) no comando da Casa.
O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), que assumiria o cargo na eventualidade de Severino pedir afastamento, afirmou que não vê sinais de que o governo estaria articulando a renúncia do pepista para forçar uma nova eleição e evitar assim a posse do pefelista.
"Acho que eu seria recebido de uma maneira normal pelo governo", disse. "Vamos pensar na própria eleição do Severino: evidentemente, ele não foi eleito pelo governo", declarou. "Na minha eleição, tive 300 e poucos votos. Se eu tive isso, então tive 200 votos da base do governo."
Nonô afirmou que não vê "problema nenhum em assumir ou não assumir", mas lembrou que, como vice, presidiu as sessões "mais controvertidas desse período" na Câmara.
Inventário de gente viva
O pefelista não quis comentar como estão as negociações em torno dos nomes para uma eventual eleição. "Não faço inventário de gente viva, vamos esperar que isso aconteça [a renúncia] para depois discutirmos a realidade", afirmou.
A mesma opinião tem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Essa discussão [sobre a sucessão de Severino] não tem sentido porque não há vacância do cargo", disse.
Renan admitiu, entretanto, que os partidos políticos já estão se mobilizando internamente. "Os partidos estão conversando entre si, mas ainda não conversaram com outros partidos", declarou.
O senador também desconversou sobre a possibilidade de o PMDB indicar o nome do presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP), para disputar a presidência da Casa.
"O Michel já foi presidente da Câmara, é um grande quadro do PMDB e do Brasil, de modo que, toda vez que alguém falar em um candidato, vai sempre lembrar do nome do Michel. Mas eu não sei se será o caso", disse.
Renan afirmou que o PMDB tem direito de apresentar um candidato, "assim como os outros partidos também têm". Mas não confirmou essa intenção. "O que o regimento diz é que o maior partido tem o direito de indicar o candidato."
Para ele, "é preciso ter prudência", porque, se houver a renúncia de Severino, será preciso "fazer uma união dos partidos em defesa da instituição, do cumprimento de uma agenda que, pela inércia política, não consegue caminhar, não consegue sair do canto em que está".