Primeiro jornalista brasileiro a entrevistar o presidente dos Estados Unidos (Franklin Roosevelt) com exclusividade, e sem intérprete, Arnon de Mello saiu de Maceió no final da década de 1920 para tentar a sorte no Rio de Janeiro.
Foi procurar o editor-chefe do Diário da Manhã, Costa Rego, alagoano e que tinha sido governador do Estado entre 1924-28; e o emprego estava garantido – o talento jornalístico de Arnon de Mello era inegável; quando decidiu deixar o Estado, Arnon era repórter especial do Jornal de Alagoas.
Enquanto profissional do jornalismo, Arnon Affonso de Farias Mello foi considerado um repórter persistente, de texto preciso e daqueles que vê a notícia onde a maioria apenas enxerga fatos. O Diário da Manhã era o jornal mais importante do País; e o Rio de Janeiro a efervescente Capital Federal, centro cultural nacional, palco importante para os profissionais com talento.
Sagaz, em 1932 foi encarregado de fazer a cobertura da Revolução Constitucionalista que eclodiu em São Paulo; os paulistas foram dominados – o governo Getúlio Vargas massacrou os revoltosos, mas, terminada a guerra interna, Arnon escreveu o livro “São Paulo Venceu” – ironia que agradou os paulistas e despertou a atenção da intelectualidade nacional.
“Sou o nono filho de onze irmãos, e o que deu mais trabalho para nascer, sem dúvida porque tenho os ombros largos”, definiu-se em suas memórias publicadas em série na Gazeta de Alagoas.
De fato, Arnon haveria mesmo de se destacar na família numerosa; nascido em Rio Largo, filho de senhor de engenho que não teve capital para se transformar em usineiro durante a “revolução industrial”, e não admitiu virar simples fornecedor da matéria-prima (cana-de-açúcar), Arnon veio para Maceió com a família – o pai montou um escritório de exportação de açúcar; e ele optou por ir trabalhar como escriturário de um armazém de secos e molhados em Jaraguá.
Mas, a sua vocação era mesmo a literatura e o jornalismo; antes de se mudar para o Rio de Janeiro, Arnon, apesar dos pouco mais de vinte anos de idade, tomou parte no movimento literário liderado por Guimarães Passos e conviveu com os escritores Graciliano Ramos, Valdemar Lima, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz – esses dois últimos viveram na Capital alagoana, antes de ganharem fama nacional.
No Rio de Janeiro, durante o processo de redemocratização do País, após a II Guerra Mundial, o repórter Arnon de Mello foi protagonista de um fato histórico registrado no livro do escritor Hélio Silva, sobre Getúlio Vargas. O escritor contou que a UDN (União Democrática Nacional) decidiu lançar candidato à Presidência da República, mas, devido à censura à imprensa, não sabia como publicar a informação.
O repórter Arnon de Mello foi encarregado de convencer o editor-chefe Costa Rego a publicar a matéria, mas este hesitou; temia represálias do governo federal e engavetou a matéria. Insatisfeitos, os udenistas procuraram o jornalista Roberto Marinho; queriam que ele publicasse a matéria em “O Globo”, jornal recém lançado e que circulava à tarde. Marinho topou; Arnon soube do acordo e avisou Costa Rego, alertando-o de que o Correio da Manhã seria “furado” pelo Globo, um jornal vespertino – na época.
Para se prevenir contra o furo, Costa Rego decidiu publicar a matéria produzida pelo jornalista Arnon de Mello; mas, omitiu o nome do candidato da oposição à presidência da República – disse apenas que a UDN já tinha candidato. A publicação da matéria no Correio da Manhã irritou Roberto Marinho – ele exigia a exclusividade do noticiário, e, novamente, a sagacidade de Arnon de Mello foi decisiva.
O “faro” do repórter deu lugar ao político que emergia no final da década de 1940; para acalmar Roberto Marinho e manter “O Globo” como aliado, Arnon de Mello propôs o seguinte:
“A manchete do Correio da Manhã foi UDN já tem candidato à Presidência da República, mas o jornal não deu o nome do candidato. Então, O Globo pode sair agora à tarde com essa manchete: José Américo é o candidato da UDN à Presidência da República”.
E assim foi feito; e assim a UDN abriu o primeiro espaço no fechado regime do governo Vargas – a repercussão da matéria de O Globo foi maior, até porque, a notícia se completou em todas as perguntas kimplinianas: quê, quando, onde, como e quem (José Américo)