O bispo Luiz Flávio Cappio, em greve de fome há uma semana, considera como “um equívoco do governo” o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco para abastecer parte dos sertões do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e de Pernambuco.
“É um equívoco porque não vai resolver o problema da falta de água para os sertanejos daquela região e, também, porque vai agravar a situação do rio já bastante alterado no seu curso”, sustentou.
Italiano é o primeiro religioso a se posicionar em defesa do Rio São Francisco, o frei Cappio é pároco de Barra, na Bahia, mas a sua influência extrapolou os limites baianos e chegou a Pernambuco; o frei está em greve de fome em Cabrobó-PE. Há uma semana não come – apenas bebe água; a greve é para chamar a atenção do governo federal, o que conseguiu.
O presidente Lula mandou emissário para comunicar ao frei que estava aberto ao diálogo, ou seja, para discutir o projeto.
Aos grandes
Na missa, na procissão, onde o frei pode falar o tom do seu discurso é um só; ele leu o projeto de transposição e concluiu que os únicos beneficiários serão as grandes empresas de agronegócios atraídas para o Ceará.
Essas empresas condicionaram os investimentos em fruticultura à contrapartida do estado em água; o canal por onde a água do São Francisco será transposta até o Açúde do Castanhão passará exclusivamente pelas terras comprometidas com o projeto.
“Essa água é inacessível para os pequenos agricultores. O metro cúbico vai custar no mínimo 4 reais e só os grandes empreedimentos terão condições de arcar com esse custo. Dizer que a transposição vai matar a sede d e quem tem sede no Ceará ou em outro estado é iludir mais uma vez essa população tão sofrida. Se quiserem matar a sede de quem tem sede no Ceará, há solução no próprio Estado, que tem uma reserva de água suficiente para abastecer a população carente”, assegura.
O frei Cappio já promoveu uma romaria de Barra-BA até Pirapora-MG.
Missa
Ontem, Dom Luiz co-celebrou uma missa ao lado do arcebispo de Feira de Santana, Dom Itamar Rian, que foi visitá-lo a pedido do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cardeal Dom Geraldo Majella.
Como a capela é pequena, a missa teve que ser campal devido à quantidade de pessoas que se aglomeravam no local, a maioria pescadores da região, além de índios das tribos truká e tumbalalá.
Eles dividiram o espaço diante da capela, às margens do rio, com autoridades que foram levar apoio ao bispo, entre elas, o governador da Bahia, Paulo Souto, e os senadores Teotonio Vilela, César Borges e Heloísa Helena.