A primeira acareação realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos desde o início dos seus trabalhos foi marcada pela troca de acusações, muitas vezes com adjetivos pesados, entre os depoentes: o ex-assessor da Casa Civil da Presidência da República Waldomiro Diniz, o empresário Carlos Augusto Ramos (Carlinhos Cachoeira), os advogados Rogério Buratti e Enrico Gianelli, e o ex-diretor da empresa Gtech, Marcelo José Rovai.
Numa das discussões, o presidente da CPI, senador Efraim Moraes (PFL-PB) interferiu. Marcelo Rovai classificou de "bandido" o advogado Rogério Burati a quem acusa de ter tentado extorquir a Gtech em troca de ajuda na renovação, em 2003, do contrato da empresa com a Caixa Econômica Federal (CEF) para gerir o sistema de loterias. Buratti ameaçou retirar-se da acareação caso o ex-diretor da Gtech não se retratasse.
Indagado por Efraim Moraes sobre por que classificava o advogado de "bandido", Rovai afirmou que "bandido é quem tenta extorquir dinheiro para levar vantagem em troca". O presidente da CPI advertiu o ex-diretor da multinacional para que não utilizasse termos como esse e comunicou a Buratti que ele não poderia, mesmo que quisesse, abandonar a sessão, porque estava sob a condição de convocado.
Rovai já havia utilizado o mesmo adjetivo momentos antes para qualificar, além de Buratti, o advogado Enrico Gianelli e o ex-assessor da Presidência da República, Waldomiro Diniz. Segundo ele, os três organizaram um esquema para pedir a Gtech a contratação de Buratti, por um valor entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões que, depois, teria baixado para R$ 6 milhões. O objetivo da consultoria, que é considerado propina por Buratti, seria o de auxiliar no processo de negociação da Gtech com a CEF.
Waldomiro acusou Rovai de "mentir o tempo todo" tanto na acareação de hoje, como na realizada ontem na Polícia Federal. "O senhor não tem moral para falar de mim, o seu depoimento foi todo desmentido ontem na Polícia Federal", afirmou o ex-assessor da Casa Civil.
Indagado pelos senadores se o pagamento de R$ 5 milhões ao dono da empresa de consultoria MM, Walter Santos, não seria uma valor muito alto para a elaboração de uma ação cautelar, Marcelo Rovai concordou. Logo em seguida, acrescentou que não acreditava que o dinheiro teria sido utilizado para pagar propina. Levantamento feito pela CPI mostra pagamentos feitos em parcelas que começaram em dezembro de 2002 e foram sacadas em dinheiro.
Os senadores também indagaram Enrico Gianelli, amigo pessoal de Walter Santos, por um repasse feito por ele de R$ 205 mil. Esta transferência bancária foi constatada com a quebra do sigilo bancário de Gianelli. "Ele me pediu R$ 200 mil e emprestei sem cobrar juros", afirmou Enrico Gianelli.
A Gtech é uma empresa multinacional que mantém, desde os anos 90, contrato para a operação de serviços de informática nas cerca de 9 mil casas lotéricas associadas à Caixa, em todo o Brasil. A Caixa recebeu do Tribunal de Contas da União a recomendação de rescindir o contrato, fracionando a prestação de serviços, mas a Gtech, por decisão judicial, impediu que isso acontecesse´.
No início de 2003, a Caixa renovou o contrato com a Gtech por 25 meses, sob a condição de que pudesse ampliar sua rede de correspondentes bancários. É nessa renovação que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz teria tentado influir, recomendando para isso a contratação de Buratti como consultor da empresa. No início de 2004, foi divulgada pela imprensa uma fita de vídeo em que Diniz aparecia pedindo propina a Carlinhos Cachoeira.